REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

domingo, 22 de agosto de 2010

UMA FÁBULA

UMA FÁBULA

Jesus Cristo tirou-se dos seus cuidados e tornou à Terra. Correu Seca e Meca confortando uns aqui, curando as maleitas de outros ali e, sempre na sua bonomia ia aliviando dos seus males a humanidade com a qual contactava.
Uma manhã calma e serena com o céu de um azul virginal como se fora o dia primeiro da sua criação, caminhava Ele, numa estrada poeirenta e pedregosa, cismando sobre a conduta vil da criatura humana. São as piores de todo o reino animal - pensava ele-.
Caminhou longo tempo e pensando já, o que diria aos outros 2/3 de si mesmo quando subisse à Sua mansão celestial.
Numa curva do caminho ouviu soluços e lamentos. Olhou em redor e viu que sentado numa rocha altaneira, estava um homem desgrenhado, sem carnes e, as suas vestes, mal lhe tapavam a nudez. Será mais um desafortunado - pensou Jesus - mas, como era seu dever, escalou o monte e sentou-se ao lado daquele infeliz.
Cristo, colocou Seu braço por cima dos ombros daquele ser sofredor e perguntou:- Homem, por que choras? O mísero olhou aqueles olhos piedosos e respondeu: - Senhor, eu choro pela desgraça que tive de nascer em Portugal.
O Redentor aconchegou-o para Si e chorou também. Por fim, Jesus limpou  as suas lágrimas à cota da mão e falou: - Curei muitos males do corpo e da alma, substituí tristezas por alegrias, mas para o teu mal só tu o podes resolver. De ti fizeram uma alimária de carrego e vais consentindo sempre mais fardos  e jamais te livrarás deles, sequer os teus filhos e talvez nem teus netos, se não fizeres como as criaturas irracionais,  que levantam os quartos traseiros e disparam um par de coices derribando a pesada carga.. Senhor que não respeite todo aquele que se esforça e que dá  o seu suor, não merece respeito.
Cristo à medida que se ia levantando ia dizendo: - Se quiseres a felicidade, conquista-a lutando. Se os teus amos não reconhecem o teu sacrifício e se em vez disso te onerarem ainda mais, renega-os e escolhe outros. Atenta bem no que te disse.
Desceu Jesus o monte e retomou o seu caminho ao mesmo tempo que ia monologando:- Este povo sempre tão abnegado  e cumpridor merecia outra sorte, tomasse ele o meu exemplo quando à chibatada expulsei do templo os vendilhões, talvez  tivesse agora mais alegria e maiores proventos.

Para todos os senhores que desprezam o suor do trabalho insano dos seus servos... REBIMBA O MALHO.

CONDE DA GARDUNHA

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

COM A VERDADE ME ENGANAS

COM A VERDADE ME ENGANAS

A crónica de hoje sai um pouco do âmbito do "REBIMBA O MALHO" já que o malho não vai rebimbar. Ela vai direccionada mais para os homens, esses seres tantas vezes incompreendidos.
Ás senhoras peço que me perdoem e fica desde já a promessa, que numa próxima crónica render-lhes a devida homenagem.
Todos nós, homens, já constatámos que para elas somos todos iguais, todos aprendemos pela mesma cartilha. Será mesmo assim? Acho uma avaliação demasiado redutora.
Depois entre elas também têm um ponto em comum: nunca lhes damos a atenção que pensam serem merecedoras. É precisamente sobre esta questão fulcral que gostaria de deixar alguns pareceres a fim de evitarmos tantas recriminações.
Meus amigos, gostavam de ver as vossas mulherzinhas cheias de felicidade a deitarem-vos olhinhos lânguidos e sorrisos transbordantes de amor? É tão fácil! Mais fácil do que dar a mamadeira a um bebé. Tomem pois estes conselhos:
- Que não passe um dia sequer sem que lhes digam com um ar apaixonado que as amam, mesmo que a paixão já tenha esmorecido e o amor esteja em vias disso.
- Beijá-la é importantissimo. Beijinho logo ao acordar (a partilha do mau hálito) com um bom dia amor. À tarde, depois de um dia de trabalho fastidioso, lá vai outro e não esqueçam de perguntar com voz melada se está muito cansadinha. E à noite já no leito conjugal, durante e  depois de cumprida a obrigação, se ela não declarar uma terrivel enxaqueca.
- Não descurem em afirmar e reafirmar que é e sempre  será, a mulher da vossa vida.
-Façam-lhe crer que sem ela a vida jamais teria interesse, não saberiam já viver sem a sua presença.
- Que quando vêem a boazona da vizinha digam que nem sequer reparam, por que só ela é graciosa, só ela tem aquele olhar tão meigo e só ela sabe ter aquele andar sexy.
- Enalteçam sempre a confecção das refeições, mesmo aquelas intragáveis. Façam o favor de as engolir  de sorriso afivelado como saboreassem um manjar divinal. É expressamente desaconselhável esboçar o mais leve esgar de desagrado.
- Nunca, mas mesmo nunca, a comparem de forma negativa com outras mulheres e menos ainda, dizer mal da sua mãezinha que é por tabela a nossa santa sogra.
- Levem-na a passear de preferência de mãos dadas, mesmo que a transpiração vos incomode.
- Se porventura, o vosso anjo em algum momento se altercar, amigos, mantenham a calma, tratem-nas com carinho, usem palavras meigas, falem num tom baixo por que ela aos poucos vai baixando os decibeis. Quando voltar ao seu estado normal, o beijo carinhoso actuará como bálsamo e apaziguá-la -à.
Muitos dos que me lêem dirão: - Era o que faltava! Este gajo é parvo! Talvez não o seja tanto assim. - digo eu -. Sempre ouvi dizer que, se não podes com elas junta-te a elas. E c'os diabos, elas gostam, deliram e suspiram por estas minudências.
É verdade que podemos ter atitudes menos machistas ou que aos olhos de muitos não passemos de subjugados e de uns pobres coitados, mas o que vale isso quando olhamos para o rosto da nossa metade e o vemos resplandecente de felicidade? O que vale isso, diante de um pecadilho aqui, outro ali, à revelia das nossas tão amadas esposas?
Chegado aqui, recordo um caso que ao tempo foi embaraçoso, mas que distanciado no tempo acho-o agora delirante. O protagonista desta história foi o meu amigo Manuel R. O Manel é a descontracção personaficada. Desde que esteve em comissão na guerra de Angola como oficial miliciano, tomou o gosto acérrimo pelas mulheres africanas. Era o pecadilho dele.
Houve uma altura que eu e um grupo de amigos entre eles o Manel  reuniamo-nos sempre no mesmo restaurante, para o almoço. A refeição decorria sempre com tão boa disposição ao ponto de outros clientes procurarem mesa perto das nossas que estavam sempre reservadas.
Pois bem, o bom do Manel, sempre que aparecia com uma mulata tinha o cuidado de se instalar o mais afastado possivel, para evitar que algum de nós lhe dirigisse algo menos formal.
Um dia, o Manel surprendeu-nos ao levar a sua mulher e, antes das apresentações disse com a maior desfaçatez: - Para que vocês não digam que só trago aqui as minhas amantes, hoje trago a minha mulher. Momentâneamente o grupo ficou atónito. Quebrei aquele "encanto" com uma gargalhada bem audível como se quisesse dizer à senhora que ele seria incapaz de tal coisa.
No dia seguinte, prendi-o amigavelmente pelo braço e a meia voz disse-lhe: - Ó Manel, com a verdade me enganas!
Ele riu com um riso que só é dado a um homem que está de bem com o mundo e com todos os seres que nele habitam.

CONDE DA GARDUNHA