DEPRESSO
São quase 17 horas. Olho através da vidraça e tudo é triste. O céu, está
carregado cor de chumbo. Não descortino a serra, por via do nevoeiro que
escorrendo-a vai tomando conta do povoado. A chuva miudinha não pára. O frio
entranha-se nos corpos daqueles que por mister são obrigados a andar fora de
casa. Os gigantes plátanos que distam de mim poucos metros em linha recta,
despiram-se, desapareceu a luxúria verde das suas folhas que jazem agora esquecidas
no chão. Na sala, onde escrevo, está na meia penumbra tendo como única luz a do
candeeiro da secretária. O relógio como plangendo bate agora a meia hora. São 17
horas e trinta minutos.
A Natureza repousa
na sua morte que ressuscitará daqui a uns meses. Sinto-me como ela, faço parte
dela.
Neste lugar, onde
me encontro, o silêncio nesta altura é quase sepulcral. Ouvem-se somente lá
longe, o ladrar descontente dos cães que por missão guardam as quintas. É o
nada no meio do nada.
Desde algum tempo
que vejo com angústia o aproximar da noite… E ela chega tão cedo!
O meu refúgio é a leitura ou olhando enfastiado o caracolear do fumo do
meu cigarro e, quando me apetece, escrever, escrever banalidades mas que,
valha-me ao menos isso, há sempre alguém a dizer que gosta. Ainda bem!
A noite é já cerrada e o que aproveitei deste dia? Talvez menos que um
cenobita que este, dentro do seu convento, tem obrigações a cumprir.
Quando de manhã desço à freguesia para tomar café (podia tomá-lo em
casa), por companhia tenho a dona do café ou algum cliente esporádico que na
maior parte das vezes nem conheço. Sinto a falta dos anciãos com quem no Verão convivo
e contam-me as suas histórias que são na maior parte, histórias picarescas. Até
estes amigos, devido à idade provecta evitam sair de casa com receio de os
invadir alguma maleita.
O meu cão, deitado aos meus pés, olha-me com meiguice parecendo até
adivinhar o meu estado de espírito, ou então interrogar-me para quando o bom
tempo, para poder correr desenfreado, pela terra fora como é seu hábito. Esse
tempo virá, mas primeiro teremos que aguardar que a Natureza saia deste coma
induzido.