SOBRE
LIVROS E SEUS AUTORES ( II )
Há
escritores e poetas com uma vasta obra que não são tão reconhecidos e amados
como alguns que publicaram um só livro. E, muito justamente, os seus nomes constam
na História da Literatura Portuguesa. Foram pessoas geniosas que infelizmente vão
caindo no esquecimento de alguns e desconhecidos por muitos.
É
pois, sobre algumas destas figuras ilustres que me debruçarei.
ANTÓNIO NOBRE (1867─1900). Publicou o livro com o título “SÓ”
declarou o autor: ─ É o Livro mais triste que há
em Portugal. Para quem o leu recordar-se-á dos poemas que se referem ao
carpinteiro a quem vai encomendar o seu caixão e noutro poema a referência que
faz quando fala com o coveiro. Nomeou estas personagens, porque sabia que a
doença, não o deixaria viver por muito tempo. Morreu aos trinta e dois anos com
tuberculose.
Adeus! Eu parto, mas volto, breve,
À tua casa que deixei lá!
Leva-me o Outono (não tarda a neve
No meu regresso, que sol fará?
SILVA GAIO
(1830─1870) foi médico e professor na Universidade de Coimbra. A sua escrita
mostra influências de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco.
No
seu livro “Mário”, Silva Gaio romanceou a época das
lutas entre liberais e absolutistas ao estilo do romantismo.
... Os
velhos falam do seu tempo; da regada do Morgado que o José
da Catarina traz de renda; e do bois a ganho, e dos
"trabutos", e têm língua ponteira...!
CAMILO PESSANHA (1867─1926) foi considerado o expoente máximo
do simbolismo em língua portuguesa. Licenciou-se em Direito tendo sido
Procurador Régio e advogado.
Vai para Macau em 1894, foi professor
no Liceu e em 1900 nomeado Conservador
do Registo Predial. Publica em revistas e jornais mas, foi só em
1920 que publica o seu único livro: Clepsidra.
Camilo Pessanha é um dos poetas mais
importantes da língua portuguesa. Morre devido ao abuso do ópio.
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
Não venhas mais ao lar. não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.
CESÁRIO VERDE (1855 ─ 1886) foi o precussor da poesia que seria feita em Portugal no
século XX. Frequentou o curso de letras abandonando pouco tempo depois.
O único livro publicado pelo poeta
tem por título: O Livro de Cesário Verde
Tal como o irmão e a irmã, também
ele morreu de tuberculose.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
- "Tu pareces nascida da rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos:
"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lagrimeja por esses aquedutos...
-"Quero um banho tomar de água salgada.
SOARES DE PASSOS (1826-1860)
foi um poeta, expoente máximo do Ultra-Romantismo em Portugal. Depois de
uma passagem pelo Tribunal da Relação do Porto, resolveu dedicar-se
exclusivamente à literatura.
Alexandre Herculano considerou
Soares de Passos como “o primeiro poeta
lírico português desse século (XIX).
Este
poeta também publicou somente um livro com o título Poesias. Do seu livro, a
poesia mais conhecida talvez seja “O Noivado do Sepulcro “que sei estar musicada.
Morre
de tuberculose, a doença que varreu todo o século XIX e grande parte do século
XX.
Vai alta a lua, na mansão da morte
Já
meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila;
dos vaivéns da sorte
Só tem descanso
quem ali baixou.
Ficam
aqui alguns exemplos de homens das letras que nos mostram que por vezes não é
por se produzir muito que a obra tem mais projecção. Com arte e inspiração
publicando um só livro, é o bastante para ficarem nos anais da literatura.
Quem já conheça e tenha lido estes
autores releiam e os que não conhecem… Recomendo!
CONDE DA GARDUNHA