REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

AO CALOR DA LAREIRA

AO CALOR DA LAREIRA

Homem que hoje recordo com saudade era um ser simples, bom e com sua filosofia.
O Ti Manel Pilatos era querido por todos daquela localidade e nunca o vi de ânimo exaltado apesar, de por vezes, ter sido alvo de algumas tiranias feitas pelo rapazio inconsequente e brincalhão.

Era uma pessoa humilde de sorriso fácil desenhado numa cara de bonacheirão onde despontava uma barba já branca que só era rapada no fim-de-semana. Naquele tempo, como um escudo e cinquenta centavos (1$50), pesava no orçamento daqueles que tinham fracos recursos e, era a maioria, só nos Sábados, é que se davam ao luxo de passarem pela cadeira do mestre Ti Zé Manteigas para a respectiva escanhoadela.O Ti Manel Pilatos segundo creio, chegou a trabalhar dentro da mina mas, só o conheci como varredor das ruas do lugar. Ignoro também a categoria que tinha, sequer se chegou a ser encarregado, como o era o Ti Prata.
Porém, o motivo principal desta crónica, foi mais para contar um episódio protagonizado por este homem e que presenciei.
Numa longínqua manhã de Primavera, estava o meu irmão alcandorado num banco, à janela da porta da cozinha a observar a lida dos varredores que com as suas vassouras feitas de galhos secos e, com o cesto asado de chapa, iam recolhendo o lixo que o vazavam para o carro de mão. Nisto, aparece o Ti Pilatos. Trazia como sempre a sua boina preta e, como hábito, já sem o remate final situado no cocuruto; estava  passajado sabe-se lá por quem, já que nunca lhe conhecera mulher de contracto.
Parou em frente daquela criança e disse com ar risonho: - mas que menino tão bonito!  Não se conteve: chegando-se mais, pespegou-lhe um beijo bem repenicado em cada face.
Fiquei contente com aquele gesto espontâneo e, principalmente, por se tratar do meu irmão. A minha mãe sorrindo disse-me: - sabes, quem meus filhos beija, minha boca adoça.



BEM AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO PORQUE VERÃO A DEUS

CONDE DA GARDUNHA

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TYLDE E THOR


TYLDE E THOR
Naquele dia do mês oitavo, o sol na sua esplendidez disparava os seus raios, para mortificação de todo o ser vivente.
Pelo meio da tarde, Tylde e os seus mais próximos, chegaram ao monte da Uña vindos não se sabe de onde.
Vinha afogueada e sedenta e, sem demora, resolveu ir banhar-se num lago delimitado pelas muralhas do Templo. Este erguia-se e aninhava-se harmoniosamente, junto ao mais arborizado monte da Uña. O templo era guardado ciosamente pelos sacerdotes Uytas que tinham também por missão além de tratar das terras envolventes, prestar bons serviços à comunidade. Detentores do saber, instruíam aqueles que os procuravam não olhando à condição social. Todos eram tratados de igual forma sendo contudo, premiados os mais aplicados no estudo.
Nesta estória entra um outro personagem de seu nome Thor que nunca ascendera a um escalão superior na hierarquia pela falta de sapiência. Thor era forte, bem-parecido e galante o que lhe valia a admiração e os favores das mulheres.
Sigamos Thor que, atento, não lhe passou despercebida a intenção de Tylde. Cauteloso como convinha, afastou-se deixando as pessoas entretidas com conversas e afazeres. Com vigorosas pernadas, facilmente venceu uma escadaria granítica seguida de uma não longa ladeira. Acobertou-se com as paredes e a densa vegetação que ladeavam o lago. Por entre esta, abriu com alguma dificuldade uma vigia que lhe ofereceu uma panorâmica do lençol de água.
Como adivinhava, Tylde, a curta distância, banhava-se voluptuosamente; maravilha das maravilhas. O coração de Thor disparou como corcel acicatado. Elevou os olhos aos deuses e agradeceu aquela ventura. Ficou estático; o tempo para ele parou. Não desfitava aquelas formas que ora emergiam ora desapareciam de seguida, só permitindo entrever para seu suplício. Mas, quem porfia… mata caça.
Apaziguado o calor que a atormentava, Tylde ergueu-se expondo ao olhar libidinoso de Thor o seu corpo na máxima beleza e pujança.
Era bela! O rosto era perfeito e sereno, a boca sensual e bem desenhada e, sobranceiro, um olhar transmissor de paz, de serenidade, embora quem nele bem atentasse, descobriria lampejos de alguma malícia, de alguma concupiscência. Era meã de estatura, pernas e ancas torneadas, barriga lisa, sem sinais de ter sido alguma vez fecundada, cintura modelada, delicada e flexível como um junco, num orgulho esbelto qual rosa mística de formosura onde um sorriso esvoaçava candidamente num reflexo de oculta ternura. Os seios tonificados e aureolados a sépia, com os bicos enristados. Parecia até que descia do acrotério, da áurea gloriosa dos templos dos pedestais das estátuas a fim de consagrar a vida e o amor.
Tylde, para alcançar as suas vestes, aproximou-se num andar coleante do sítio onde Thor estava de tocaia. No momento próprio e, com ânsias de desejo, estendeu o braço possante, puxando a si, aquele corpo belo e desnudo de fazer inveja a uma qualquer Afrodite.
A surpresa pareceu não ter sido muito vincada. Tylde resiste, mas não com muita convicção; parecia que já esperava os movimentos escusos daquele homem atraente e possante.
Fitou-o com seus olhos rasgados e sedutores, seus lábios túmidos e sensuais de bacante entreabriram-se num meio sorriso e anichou-se no peito daquele homem sedutor e possante.
Apesar da sua excitação, Thor procedeu como se nas suas mãos tivesse a flor mais rara, a flor mais delicada.
Tomo-a nos braços e levou-a para um sítio recôndito. Numa cama feita de folhame, depositou gentilmente a sua preciosa carga. Colheu flores campestres e derramou as pétalas sobre aquele corpo de epiderme morena e voluptuosa. Do ar, diluiu-se radiosa poalha de oiro que cúmplice o deus maior do amor, espargia abundantemente.
Tylde cônscia da sua nudez de açucena rutilante, ruboresceu, fremiu e sorriu com uns lábios túmidos e sensuais de bacante; foi o suficiente para chamejar o que estava latente: Thor cobriu com o seu o corpo daquela que no momento era o que mais desejava. Ela recebeu-o enlaçando-o e as bocas uniram-se. O que demorou algum tempo na conquista consumou-se em poucos minutos. Ficaram os corpos e os sentidos pazeados.
Não houve promessas nem juras, ambos tinham a consciência que aquela união se realizou por impulso do desejo e que entre eles, o amor seria inconsequente embora na memória de cada um, estes momentos vividos com intensidade, para sempre ficaram gravados. 
Thilde, mergulhou no sono, bela na sua nudez já saciada, rosto vergado, pálpebras cerradas, tronco que se enroscava, mostrava suas formas pujantes, de cujos seios robustos dir-se-ia jorrar vias lácteas resplandecentes.
Os duendes da floresta tangiam múltiplas e pequenas campainhas. Os lábios de ambos descerraram-se lentamente desenhando um sorriso de bem-aventurados.
                                                                                                           
CONDE DA GARDUNHA



domingo, 3 de novembro de 2013

SOBRE LIVROS E SEUS AUTORES ( II )

SOBRE LIVROS E SEUS AUTORES ( II )

Há escritores e poetas com uma vasta obra que não são tão reconhecidos e amados como alguns que publicaram um só livro. E, muito justamente, os seus nomes constam na História da Literatura Portuguesa. Foram pessoas geniosas que infelizmente vão caindo no esquecimento de alguns e desconhecidos por muitos.
É pois, sobre algumas destas figuras ilustres que me debruçarei.
ANTÓNIO NOBRE (1867─1900). Publicou o livro com o título “SÓ” declarou o autor: ─ É o Livro mais triste que há em Portugal. Para quem o leu recordar-se-á dos poemas que se referem ao carpinteiro a quem vai encomendar o seu caixão e noutro poema a referência que faz quando fala com o coveiro. Nomeou estas personagens, porque sabia que a doença, não o deixaria viver por muito tempo. Morreu aos trinta e dois anos com tuberculose.

Adeus! Eu parto, mas volto, breve,
À tua casa que deixei lá!
Leva-me o Outono (não tarda a neve
No meu regresso, que sol fará?
                                         
SILVA GAIO (1830─1870) foi médico e professor na Universidade de Coimbra. A sua escrita mostra influências de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco.
No seu livro “Mário”, Silva Gaio romanceou a época das lutas entre liberais e absolutistas ao estilo do romantismo.

... Os velhos falam do seu tempo; da regada do Morgado que o José
da Catarina traz de renda; e do bois a ganho, e dos "trabutos", e têm língua ponteira...!
                         
CAMILO PESSANHA  (1867─1926) foi considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa. Licenciou-se em Direito tendo sido Procurador Régio e advogado.
Vai para Macau em 1894, foi professor no Liceu e em 1900 nomeado Conservador
do Registo Predial.   Publica em revistas e jornais mas, foi só em 1920 que publica o seu único livro: Clepsidra.                                                    
Camilo Pessanha é um dos poetas mais importantes da língua portuguesa. Morre devido ao abuso do ópio.

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.

CESÁRIO VERDE (1855 ─ 1886) foi o precussor da poesia que seria feita em Portugal no século XX. Frequentou o curso de letras abandonando pouco tempo depois.                                    
O único livro publicado pelo poeta tem por título: O Livro de Cesário Verde
Tal como o irmão e a irmã, também ele morreu de tuberculose.

E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
- "Tu pareces nascida da rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos:

"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lagrimeja por esses aquedutos...
-"Quero um banho tomar de água salgada
.

SOARES DE PASSOS (1826-1860) foi um poeta, expoente máximo do Ultra-Romantismo em Portugal. Depois de uma passagem pelo Tribunal da Relação do Porto, resolveu dedicar-se exclusivamente à literatura.
Alexandre Herculano considerou Soares de Passos como “o primeiro poeta lírico português desse século (XIX).
Este poeta também publicou somente um livro com o título Poesias. Do seu livro, a poesia mais conhecida talvez seja “O Noivado do Sepulcro “que sei estar musicada.
Morre de tuberculose, a doença que varreu todo o século XIX e grande parte do século XX.
  
Vai alta a lua, na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.                                                                      

Ficam aqui alguns exemplos de homens das letras que nos mostram que por vezes não é por se produzir muito que a obra tem mais projecção. Com arte e inspiração publicando um só livro, é o bastante para ficarem nos anais da literatura.
Quem já conheça e tenha lido estes autores releiam e os que não conhecem… Recomendo!
 


CONDE DA GARDUNHA