REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NATAL

NATAL

Estamos já na quadra Natalícia e o dia de Natal caminha a passos largos.Escrevo esta crónica, para manifestar o meu desencanto pelo modo como se vive actualmente este evento tão querido a toda a comunidade cristã e que está completamente desvirtuado e adulterado.
Nos meus tempos, a festa tinha como figura principal o Jesus Menino porque é afinal o seu nascimento que comemoramos.
Nos tempos que correm, a festa tem como figura principal o pai natal: um fulano grotesco de vermelho vestido, de carapuço de igual cor e um cinto largo, preto, com um fivelão, qual cilha de alimária a apertar-lhe o farto bandulho.
Nesta festa deixou-se portanto de comemorar o nascimento de Cristo, para prestarem honras a este homúnculo que com os seus ô ô ô lá vai atraindo a pequenada com o fito de aumentar as vendas dos tubarões pelos quais foi contratado.
Este boneco em minha casa tem a entrada vedada. Vade retro! O único motivo alegórico é sem dúvida o presépio composto por aquelas figurinhas singelas e coloridas que uma vez por ano são expostas. O mesmo acontecia tempos atrás em quase todos os lares da gente portuguesa.
Se não inverterem esta tendência, de substituir o Deus Menino pelo pai natal, então terá razão o poeta David Mourão Ferreira que num seu poema diz o seguinte:

─ Há-de vir um Natal e será o primeiro
Em que nem o Natal terá qualquer sentido.

E com esta me vou…

NATAL DE 2012

Conde da Gardunha

domingo, 25 de novembro de 2012

POESIA ERÓTICA

POESIA ERÓTICA COM RIMA E SEM MÉTRICA 

Certo moço afidalgado,
Tendo seu membro exaltado
Como acesa fogueira,
Não encontrava maneira
De tal fogo apagar.
À mão, nem sequer pensar,
Por já estar escanzelado,
De tanto ter sido esfregado.
Estava o moço naquele anseio,
Quando uma velhinha em passeio,
Em passo firme e de olhar matreiro,
Topa aquele rubicundo altaneiro.
“Há tempo meu querido Deus,
Não vejo uma pica erguida aos céus─”
E num de repente com frenesim,
A velha fogosa pôs-se assim:
Saias ao pescoço e crica à vela.
“Vem depressa moço, vem metê-la”.
Desatinado, o moço ajoelhou
E em breve a velha empalou.
“Quero ser bem beijada”,
Grita aquela boca desdentada.
Começaram os movimentos,
Alguns até bem violentos.
E a velha que estava febril,
Gemia de gozo e dava ao pernil.
“Já não sei como isto se faz
Ensina-me tu meu rapaz!
Não sei se é para me borrar
Ou se será para eu gozar”.
E foram tantos os urros e ais
Que das árvores afugentaram os pardais.

Conde da Gardunha

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

RETIRADO DA OBRA "0 REMEXER NAS CINZAS" DE FERNANDO SERRA



RETIRADO DA OBRA "O REMEXER DAS CINZAS" DE FERNANDO SERRA


Naquele tempo, o cinema foi palco de grandes espectáculos com as mais célebres figuras do mundo artístico. Hoje vou referir-me, ao grupo “OS COMPANHEIROS DA ALEGRIA”, companhia formada pelo Igrejas Caeiro de boa memória. Desta visita surgiram vários episódios dos quais retirei um da obra “ O REMEXER DAS CINZAS” da autoria de Fernando Serra. Escreve o autor:

“O URRO DA BESTA…”
            Chamada ao palco para actuar, Madalena Iglésias chegou à boca de cena e sorriu. Sorriu com os mesmos olhos luminosos e sensuais que todos lhe conheciam da televisão e das revistas. Estava sumptuosa e deslumbrante naquele noite de verão de 57 ou 58. Demais, para alguns.
            Olhando talvez ao mundo atrasado em que o espectáculo decorria, iludiu o busto generoso desnudado com uma elegante écharpe de rede que lhe redobrou a sensualidade. E começou, então, por brincar com a assistência advertindo-a de que “se acaso, quando estiver a cantar, virem sair da minha boca   uma espécie de nuvem, isso deve-se à montanha de pó que engolimos durante a viagem”… Há perto de cinquenta anos, recorde-se, vivia-se por cá em plena “IFM” (“Idade Forte do Macadame”) e, por isso, a rede viária disponível necessariamente poeirente e intragável.
         
            Foi então que subitamente ecoou na sala um berro animalesco vindo do meio da assistência, quebrando o êxtase de uma plateia silenciosa e fascinada.

─ “Tira o capote…”

            Todos se viraram na direcção de onde deflagrara o “petardo” e logo deram de caras com um homem pequeno, meio bexigoso, de narinas dilatadas, a sorrir alarvemente ─ era um tal Carlos Carvalho, “marialva de capoeira”, “D. Juan de pacotilha”. A quem o exibicionismo grosseiro era uma esmola perdoar-se-lhe pela “boçalidade” e “indigência de espírito”, defeitos redutores do ser humano.

            A Diva não se deixou intimidar. Tirando partido do estatuto de vedeta que já era, enfrentou do palco o torpedeiro e lançou-lhe com uma espontaneidade e um charme desconcertantes:
                                          
“Para pastores, capote basta!..."

E mais não disse.



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CALÃO EM RIMA

CALÃO EM RIMA

QUEM SERÁ CAPAZ DE TRADUZIR?

Palácio do conde Andeiro,

dia três do mês corrente.

Num velho surdo sentado.
escrevo-te e quero primeiro
que estejas bacanamente
já que eu me encontro encanado.

Com a fresca no bastelo
vou escrever-te esta falha
para que ponhas a fancos.
Já deu de cabra o camelo
a quem eu guindei a tralha
e manjou que eu era mangos.

Se a bófia te dichavar
não dês a morte o arquilho:
achantra-o na clarante
e se o pasma te mancar,
no caso de dar para estrilho,
está no piano a fugante.

trás-me uma tábua nodízia
e tinhosas para morfar.
Se quiseres traz a chavala,
pois vê bem, minha chorízia,
o mangas está a berrar,
não dá para pagar a sala.

Traz-me um pintor enrostido
entre a sola do calcante
para eu pagar a sala.
Firma-te bem nas canetas.
Antes de passares por cá
passa pelo invejoso.

Vou terminar estas letras
recebe pois querida agá
um xoxo do teu manhoso.

Conde da Gardunha

domingo, 18 de novembro de 2012

"UMA CARTA" (SEGUIMENTO E FINAL)

"UMA CARTA" ( SEGUIMENTO E FINAL)

Por momentos, vi aquela praça fervilhar de gente nos dias de pagamento. Ali acudia todo o género de comerciantes expondo cada um o seu produto espalhado pelo chão, salvo os hortícolas que ficavam nos cestos de verga. Tudo ali se encontrava, até o ouro estava presente na mala verde do Sr. Rato, o ourives quase residente; também os livrinhos que segundo eu creio, eram da editora Majora: o João Soldado, A princesa Magalona ou o Ali babá e os Quarenta Ladrões e outros que já não me lembro dos títulos. Mas, o que reunia mais gente à sua volta, era o já desaparecido Banha da Cobra. Este género de pessoas tinha regra geral uma verve fácil, com gestos largos e por isso, não era difícil prender a atenção do povo, um povo naquela altura ingénuo e com uma grande taxa de iliteracia. O produto apregoado tinha as mais variadas propriedades desde abrir o apetite até ao crescimento de uma farta cabeleira na mais luzidia careca, passando por eliminar o calo mais renitente ou a cura do hemorroidal. E as gentes que por natureza eram crentes, e o que mais desejavam era livrarem-se das suas maleitas, embarcavam naquela nau de ilusões. E o homem gritava: um frasco para aquele senhor da esquerda, dois para aquele da direita, não esquecendo os três daquela menina. E a menina ficava da cor da romã.
Mas, o comerciante principal, o comerciante residente, deixei-o propositadamente para último. Decerto meu amigo que já adivinhaste de quem se trata. Ele merece uma referência, à parte de todos os outros não fosse ele um vendedor de sonhos principalmente para a criançada. Por vezes, não passava disso mesmo, de sonhos que não se concretizavam. Os pais, de certeza a contra gosto, não podiam transformar os sonhos dos filhos em realidade pela manifesta falta de recursos financeiros. O dinheiro por vezes era insuficiente para o governo da casa. Pois é desse homem que falo como já adivinhaste. Um comerciante tendeiro, bem-humorado, sempre de laracha afiada, de estatura baixa e por ter um defeito numa perna, mancava acentuadamente. Ora bem, na tenda do Ti Manuel João, havia quase de tudo. Era um mundo fascinante que fazia brilhar os olhos cobiçosos dos mais pequenos que se estendiam ao pião com a respectiva baraça, ao espelho redondo que do lado oposto tinha uma figura representando jogadores do Benfica ou do Sporting, ao pífaro de lata, a um artefacto de barro com bocal e dois furos em cima que assoprando e alternando os dois dedos imitava na perfeição o canto do cuco, ou ao realejo ou gaita-de-beiços ou, como se chama agora, harmónica bocal. Parece que estou a vê-las: eram belas, brilhantes e, a envolve-las, tinham um papel branco encerado e depois metidas numa caixinha de cor verde com uma minhota estampada. O preço era consoante o número de vozes que tivesse que ia a partir das doze vozes. Num Natal e porque durante o ano me tinha portado bem, o Menino Jesus e não o pai natal, achou por bem fazer essa oferta. Bem-haja Ele.
Pronto amigo, aqui fica expresso a minha pequena homenagem a um homem que ganhando a vida com o seu negócio de tendeiro, também é certo que de algum modo facilitou a vida de muitas pessoas proporcionando-lhes o artigo que necessitavam e que de outra maneira teriam de se deslocar mais longe para o adquirir.
Mais uns metros e chego perto da capelinha. Santo Deus, no adro, junto ao muro, ainda lá estão garbosas as duas árvores (plátanos) que sempre conheci: saudei-as com um sorriso. Quantas pessoas, essencialmente homens, se acolheram debaixo das suas copas frondosas, recebendo a sombra amiga. Quantas conversas francas ou sussurradas elas escutaram e a quantos serviram de encosto. Árvores protectoras que sempre acolheram quem as procurava. Oxalá que todos os que ainda lá vivem, as preservem. Seria ingratidão maltratar quem sempre nos acolheu.
Entrei no templo com uma forte emoção pois foi dentro daquelas quatro paredes que recebi os primeiros ensinamentos que me permitiram entrar para a grande comunidade católica tal como aconteceu contigo e tantos outros nossos amigos. O meu olhar abarcou tudo quase simultaneamente e logo me apercebi que algumas coisas tinham mudado como a retirada do púlpito. O púlpito era um reduto simpático utilizado normalmente nos actos religiosos de mais cerimónia. Dali, o pregador ficava mais visível.
Também dei pela falta do confessionário, uma casinha que era para mim enquanto criança, um esconderijo misterioso. O confessor estava escondido, e as mulheres embiocadas com véus, lenços de cabeça ou xailes bem puxados para o rosto, ajoelhavam e o cicio de ambos dava a impressão que eram cúmplices dos mesmos pecados. Quantas consciências pesadas ali foram aliviadas. Ali, de joelhos, todos se humilham e humildam e confiam num semelhante também ele pecador. Eu já nessa altura achava que era uma violência e uma submissão escusada perpetrada pelos homens.
Agora meu amigo sabes o que colocaram nas paredes laterais? Dois grandes painéis de azulejo azul representado a vida da Santa Bárbara, dei-lhe valor e para mim uma novidade. Sabes quem os ofereceu? Um, foi o povo das Minas e não me causou estranheza sabendo como é esta gente, sempre disponível. Quanto ao outro, ah, quando li o nome do ofertante, nem queiras saber o meu espanto e a vontade rir que me deu. A personagem podia ao menos ser modesta e prescindir de honras colocando somente por exemplo: oferta de um anónimo; oferta de um homem desta terra ou oferta de um devoto, mas não. O homem pretendeu perpetuar-se. O seu nome? António Francisco da Cruz. Lembras-te dele A…? É escusado dizer mais, mas com certeza que quis apagar do colectivo certas memórias nada abonatórias e fazer negócio com o Altíssimo.
Outra coisa que dei pela sua falta foi a ausência da água-benta nas tradicionais pias de pedra, onde todo o bom católico para ficar purificado e de bem com Deus tinha que primeiro passar a mão direita por aquela água quando não a chafurdava mesmo. Quanto mais quantidade, mais purificado.
Em suma: já não é aquela capela arrumadinha, florida, com espaço bastante na capela-mor que a encontrei atafulhada e sem gosto. Jamais será igual como naquela noite já velha em que um grupo de rapazes bem comportados, entraram naquele lugar de culto a fim de visitar o Sagrado Lausperene que estaria exposto até ao amanhecer. Lembras-te? Devido ao adiantado da hora, não estavam muitas pessoas, mas todas se voltaram para trás quando aquele grupinho de jovens elevou as suas vozes num cântico ao Senhor. Foi bonito e ainda hoje rejubilo e sinto saudades sempre que recordo esse episódio.
Finda esta visita, ainda dei um salto à galeria 6 e, do alto do aterro, contemplei por momentos aquele vale que por um caminho passavam carros puxados por juntas de vacas e cujas rodas chiavam numa toada alegre.
Olhei a ladeira que tantas vezes subi e que vai dar ao campo de futebol que bifurcava para um grupo de casas onde vivi enquanto menino. Tinha como vizinhos o Sr. Monteiro que nas horas vagas trabalhava numa sua oficina de latoaria. O Sr. Alfredo Tomás, quase sempre ausente. O tal Sr. Tavares motorista do director que depois deu lugar ao Ti Albino Duarte. “O Eng.º Sonda”.
Aqui vivi quase que posso afirmar, os melhores anos desde a meninice até à primeira juventude. Fui feliz porque tive tudo sendo  esse tudo, quase nada. Os meus bens materiais que adorava, cabiam todos eles nos dois bolsos das calças ou do calção: o pião, o berlinde e a fisga e nas mãos transportava os dois paus da bilharda. Diz-me lá meu amigo, o que mais podia almejar? Que maior riqueza poderia ter? Como me sentia rico e mais do que isso, feliz!
A minha visita estava quase no final. Porém, não podia despedir-me sem entrar no clube. Eram 17 horas quando abriram as portas. Entrei e num relance verifiquei que nenhum dos presentes me era familiar. Todas as caras me eram desconhecidas, aliás, durante esta visita não vi uma pessoa do meu e nosso tempo. Senti-me um estranho na minha própria casa.
Quando tomava uma bebida sentado placidamente a uma mesa, dirigiu-se-me uma jovem querendo saber se eu ali tinha vivido. Satisfeita a sua curiosidade, perguntou-me logo de seguida se tinha conhecido o Ti Zé Moreira, claro que sim respondi.  Naquele tempo, não havia ali ninguém estranho todos se conheciam, pese embora, os milhares de pessoas que residiam no couto mineiro. A moça revelou que era filha do Luciano. Tive a sensação que havia amargura e que algo atormentava aquela alma. Desconhecia por completo a sua vivência enquanto menina mas, também nada lhe perguntei e nem eram contas do meu rosário. Mas, ela falou do pai que tinha falecido ainda novo e da mãe que não sabia do seu paradeiro, apesar de ter feito diligências para a encontrar. Fiquei impressionado com o drama daquela ainda jovem rapariga. São afinal as malhas de uma rede que a vida tece.
Estive no clube pouco tempo mas o suficiente para relembrar certos casos e muitas pessoas. Vi o Ti Zé Leal o homem que geria o bar e só ele com a sua inesgotável paciência podia aturar todos aqueles já com um grão na asa; o Palpito, homem de envergadura, impulsivo e de uma farta cabeleira branca e já agora, pai de uma moçoila de curvas generosas; o Toninho da Mata o pata larga porventura o homem mais bem-parecido do lugar e arredores. Benza-o Deus; o Ti Alípio, natural de Casegas se não me engano, sempre misterioso nas suas conquistas amorosas, amante da noite e um pouco lobo solitário como convinha, claro; o Ti Jerónimo (carniceiro) que numa linda tarde de verão a um Domingo já bem bebido, desandou estrada abaixo levando uma das cadeiras do clube à cabeça que a tinha surripiado sem ninguém lhe ter dito o que seja, ao mesmo tempo ia gritando que era a parte dele, a parte que lhe cabia; o Ti Almeida, meu querido amigo que me tratava carinhosamente por um diminutivo e a cada passo dizia que tinha andado comigo ao colo o que era verdade. Homem bom! De estatura meã e de porte franzino mas rijo como o granito. Era polivalente: jogador de futebol, treinador e massagista, funções que desempenhava no Grupo Desportivo Mineiro. Benfiquista até à medula e que por isso deu motivo a uma cena de pancadaria dentro do clube. Quando o Benfica foi pela primeira vez campeão europeu, logo após o final do jogo, o nosso amigo Almeida com mais três amigos fizeram uma entrada triunfal no clube empunhando na mão direita uma taça mas uma taça de troféu e cheia de vinho da qual iam beberricando. Quem não gostou da brincadeira tomando-a como uma provocação, foram os Sportinguistas e principalmente o Silva. Só sei que as cadeiras e bancos voavam e não eram de plástico mas com a estrutura de ferro e assento de grossa madeira.
Lembrei-me do Ti Diga-Diga, pessoa pacata. Gostava dele apesar das poucas conversas que tivemos, era parco nas palavras; o Ti Manel Pilatos que era um regá-lo vê-lo adoçar o café. Naquele tempo usavam-se ainda os açucareiros. Descontraído e sem cerimónia, depois de despejar para a chávena umas quantas colheradas, era com essa mesma colher, a do açucareiro, que mexia e provava e, se já estivesse ao gosto do seu paladar guloso, pousava-a dentro do recipiente. Mas, a colherzinha que acompanhava o café, também lhe dava uso., era para depois de bebido, rapar o açúcar acumulado no fundo da chávena; o António Abrantes que o recordei com bastante saudade, quando lhe dava um abraço, parecia que abraçava um mundo; o Zé Albano, rapaz sempre muito arrumadinho e educado. Ainda hoje estou para saber qual a técnica que empregava para que os sapatos andassem tão brilhantes como espelhos; o Pedro Serrano, rapaz calmo e discreto; o Amândio Nunes e os seus irmãos: Belmiro, Aurélio e Horácio mais conhecido na altura por Falhinho; os irmãos Ventura, Luís e Mário, este era o fotógrafo; o Tonito 25, também discreto; o Zé Panaita (esquecem-se os nomes e ficam as alcunhas); o nosso Manuel Amarante que nos deixou antes do tempo; o Adelino que o recordo com uma jaqueta de flanela aos quadrados, gravata berrante e óculos escuros com aros amarelos, ofertas vindas da América enviadas por um familiar; os irmãos António e José Marques sempre prestáveis; o João maquinista que nos oferecia à porta do clube espectáculos de equilibrismo na sua bicicleta; o Manuel Cabral que faleceu num acidente de trabalho no estrangeiro; o Chaves que os miúdos adoravam; os irmãos Serrão: Joaquim, Manuel, José e o António; o Bandeira, exímio no bilhar e xadrez. Enfim, tantos e tantos outros poderiam ter sido evocados mas foram estes os que vieram à memória.
Os lugares que não visitei, ficarão para uma outra oportunidade se tiver vida e saúde.
Parti dali com um travo agridoce. Por um lado, matei as saudades daqueles sítios e por outro, as saudades das pessoas que me eram queridas, avivaram.
Sabia que a carta seria longa mas nunca deste tamanho. Desculpa. Foi um abuso, tenho consciência disso.
Recomendações à tua mulher e para ti, um abraço fraternal do teu amigo de sempre
                                                                                         
CONDE DA GARDUNHA

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

PORTUGAL ATOLADO IV

PORTUGAL ATOLADO IV

      Angel Merkel está de visita a Portugal. Pelo que pude observar, só um grupelho se manifestou contra a sua visita ao país luso.

Pergunto eu: por quê essa mini manifestação? Ou uma eventual mega manifestação se fosse o caso? Será dela a culpa do desbaratamento dos dinheiros que foram enviados às pazadas para Portugal? Na minha modesta opinião, de um português que se sente lesado, ela, a chanceler, não tem culpa alguma. Culpas têm esses fulanos que governaram desde o começo da entrada dessa dinheirama não se lembrando que a teriam de a pagar.
Foram construídas auto-estradas quase sem trânsito com sucessivas derrapagens, que serviram somente para engordar as contas bancárias de muitos e que era bom, denunciar esses tubarões que contribuíram para o estado em que o país se encontra.
Foi um mar de rosas enquanto os fundos comunitários entravam aos milhões por dia. Os megas projectos sucediam-se, vendiam-se cabritos e cabras não tinham e, nesta ilusão, gastava-se mais do que se ganhava. O resultado não poderia ser outro do que aquele em que vivemos agora: subjugados, sacrificados e sem identidade própria porque estamos sob o jugo dos nossos credores. Jamais seremos nós próprios.
Culpados? Há-os sim! Desde logo num passado recente, temos o duvidoso engenheiro Sócrates. Sabendo ele em que estado estava o país, ainda tinha em mente a construção do TGV, de um novo aeroporto, longe de Lisboa e, uma nova ponte sobre o Tejo. Portanto, obras faraónicas que muitos milhares de milhões se acrescentariam à dívida e sempre a encher os bolsos de muitos. Todavia, do senhor Pinto de Sousa um dos principais coveiros da nação, ninguém fala, por que será? Estará o partido a que ele pertence a preparar o seu regresso em apoteose? Mal, mas muito mal, se isso acontecesse.
Por que não pedem a extradição deste senhor para ser julgado? Se isso acontecesse, e se fosse um julgamento com jurados conscientes, ah, meus amigos, podem crer que o Sr. Sócrates cumpriria pena efectiva, assim como os elementos dos  governos anteriores que todos eles têm a sua quota parte no desgoverno do país e, como não poderia deixar de ser, de todos os portugueses. 
Por não poder fazer melhor, acusam o actual governo de imaturo e com falta de preparação, e o que dizer dos antecedentes? Foram todos aprendizes da política; não conheço até agora, uma escola que preparasse as pessoas para tal exercício. E,  toda a aprendizagem, custa muito dinheiro só que neste caso afecta milhões de pessoaas.
Há, contudo, uma franja política, a minoria, ou seja, os bloquistas e os comunistas, com uma expressão insignificante no eleitorado. Contudo, pelo que eles dizem, têm uma fórmula mágica para resolver todos os problemas. São uma espécie de propagandistas da banha da cobra de antigamente. Não esqueçamos que a doutrina da URSS era para estes seres, a sua Bíblia. Só depois do desmembramento do império, verificaram que não era aquilo em que tinham acreditado. Tinham sido imbuídos numa demagogia que à partida para quem estivesse de mente aberta a todas as correntes ideológicas, veria com facilidade que não passava de uma utopia.
Ainda bem recente, duas moças artistas por terem cantado num dos seus espectáculos uma canção em desacordo com a política do Senhor ex-KGB Putin, foram julgadas e enviadas para a Sibéria a cumprir pena. É esta a democracia russa! É esta democracia que queriam implantar em Portugal.
 É sempre bom que se fale de Hitler para que tais horrores não voltem jamais acontecer mas, não esqueçamos igualmente Estaline que dos dois, não sei qual deles mais vidas humanas ceifou.
As palavras, são como as cerejas como se costuma dizer, vejam lá onde me levou esta crónica e tudo a propósito da visita da Senhora Chanceler a Portugal. Porém, afirmo que sou dos que concorda com a sua visita porque ela in loco pode ter uma visão mais lata das dificuldades do nosso país.
Agora, para todos aqueles que deram a sua “ajuda” para pôr Portugal num dos estados mais pobres da União e quase sem identidade, meus queridos leitores deste blogue, para estes sem patriotismo e sem vergonha... REBIMBA O MALHO.




CONDE DA GARDUNHA










domingo, 4 de novembro de 2012

UMA CARTA

UMA CARTA


CARTA ESCRITA NO ANO DE 1995 A UM AMIGO DE INFÂNCIA AUSENTE DO PAÍS.
(É A CARTA MAIS LONGA QUE ESCREVI E POSSIVELMENTE A QUE ESTE AMIGO RECEBEU).


           Meu querido A...                                                                                                         


           Depois das férias que as gozei no mês de Agosto, resolvi dar-te conta como ocorreu a visita que fiz à Panasqueira terra onde arribei com dois meses de vida. Foi mais do que uma visita, foi antes, uma romagem de saudade.
Espero que tenhas a paciência necessária para levares avante esta empreitada pois promete ser longa. Pelo menos encontres nela, um pouco do prazer do muito que tive ao escreve-la. Contudo, se achares que é pieguice ou despropositada, perdoa mas, a razão, talvez seja devida ao facto, de muito ter amado aquelas paragens bem como as gentes que nelas habitaram. É o passado que está arreigado e, que de certo modo, ajuda a viver o presente.
O dia 11 de Agosto deste ano do Senhor de 1995 amanhecera lindo e quente como, aliás, é habitual nesta época de estio. Foi neste dia magnífico que da minha terra Louriçal do Campo saíram dois automóveis com rumo à Panasqueira levando comigo amigos que convidei a visitarem esta terra para mim muito querida.
A primeira paragem foi em Silvares, recentemente promovida à categoria de Vila. A hora do almoço chegara e, para o efeito, indagámos por um restaurante. Foi-nos indicado alguns e optámos pelo que nos pareceu mais aprazível pois tinha um terraço com grande latada. Escolha errada, confecção deficiente e, até a qualidade bastante duvidosa.
A digestão foi-se fazendo à medida que íamos somando quilómetros. Um pouco antes do Rio (Cabeço do Pião), tive que fazer uma curta pausa, para ver uma vez mais aquela paisagem soberba exposta aos olhares de todos.
Paisagem de uma beleza sem par, os montes e vales sucedem-se e, entre estes, lá bem no fundo, serpenteia molemente a ribeira do Zêzere; é um encanto, fonte inspiradora para o mais exigente pintor. Enchemos os olhos e alentámos a alma.
Retomada a marcha, ia pelo caminho observando e tudo me era familiar. Desde tenra idade que me habituei ver aquelas paisagens e, se quando por ali residia, não dava a merecida importância, agora que estou fisicamente ausente, a importância é redobrada e, por tudo sinto um carinho especial até enternecedor.
São aqueles aterros que jazem sem que por eles jamais rolem pedras quais lágrimas rolando pela face enrugada de um ancião quiçá com saudades da pedra mãe de onde foram separadas à força bruta dos explosivos.
São os altos pilares do caminho aéreo que não são mais do que gigantes apontando os céus parecendo gritar a sua revolta pela inutilidade. Jazem ao sabor do tempo inexorável que aos poucos os vai corroendo.
Entrei na Barroca Grande. À direita olhei o edifício dos correios. Estava encerrado. Recordei o meu amigo Zé Neves, antes um seminarista, pessoa simples que com o tempo e talvez pelo encargo que tinha chefe dos correios, tomou conta dele a vaidade. O ser humano tem destas coisas.
Por associação de recordações pois elas cruzam-se, entrelaçam-se e até paralelamente caminham, lembrei-me do pai deste amigo o ti Francisco Carvalhas, senhor de uma hortita que ficava paredes-meias com o recreio da escola das raparigas. Como era muito cioso das suas culturas, ficávamos muito apreensivos quando entravamos furtivamente pela necessidade de resgatarmos a bola que um pontapé ou num ressalto a projectava para o meio da hortaliça. Ai daquele que fosse apanhado a devassar a propriedade e, a coisa complicava-se, se desse conta que por um passo mal calculado era pisada alguma novidade por ele semeada. O homem, ficava furibundo. Com certeza que também assististe em algum momento a este drama. Porém, nós que estávamos no pináculo da juventude e irreverência embora um pouco contida pela brida da altura, pouco ou muito pouco nos ralávamos.
Continuemos: passei pelo edifício dos escritórios centrais e, tal como os correios, também tinha as portas fechadas. Desolação!
O casario está na mesma; todo perfilado ocupando aquela encosta e bem enquadrado em todo aquele espaço envolvente.
Lá está aquela curva por onde os trabalhadores atalhavam encurtando caminho através da serra com destino à Panasqueira e outros iam mais além, para São Jorge da Beira (Cebola). Era um fado de todos os dias. Tempos difíceis aqueles principalmente quando o Inverno deitava de fora suas garras bem afiadas porque ali, naquelas terras do fim do mundo, a invernia era inclemente, muito rigoroso e longo. Era penoso para os que eram obrigados a meterem-se ao caminho chegando aos seus locais de trabalho sabe Deus em que situação. Os salários eram parcos e a perda de um ou dois dias, já faziam falta para o governo da casa, principalmente para aqueles com família constituída. Havia de facto muitas famílias a viverem muito mal, com sérias dificuldades até para o elementar. Oxalá que todos eles, os que ainda estiverem entre nós, tenham hoje fartura e que jamais nenhum mineiro ou operário passem por aquelas privações que todo o ser humano em circunstância alguma deveria ter conhecido.

Depois da Lomba da Cevada, vem logo a seguir os Cambões. Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido. Vi casas mais ou menos recentes tanto da parte de cima como da parte de baixo da estrada. Fiquei contente, o lugar progredira. Contudo, algumas já não são do meu tempo, pouco me dizem ou nada e, por isso, prefira o antigo casario, aquele que me conhecera e eu a ele. A preferência primeira vai para a capelinha lá no fundo do povoado, singela e, primorosamente caiada de branco. Este carinho advém possivelmente, porque foi o primeiro sítio que conheci dos Cambões. Sabes por quê? Era perto dela que no mês de Outubro de todos anos ali fazíamos o magusto sob a vigilância dos nossos professores e do padre Leal. Era no terreiro envolvente da capelinha que dávamos asas à nossa alegria e às nossas brincadeiras de meninos. Assim, o eu associar a capelinha às castanhas o que na verdade não posso dizer que seja o religiosamente correcto. Posteriormente liguei-me por outro motivo. Era ao seu redor que anualmente se fazia uma festa em Sua honra. Todavia, penso que a Sua graça é Senhora da Guia. Será?
Era uma festa simpática como todas as festas das aldeias. E nós, o nosso grupo, por lá deambulávamos não só para vermos as cachopas e diga-se em abono da verdade, também para sermos vistos. Abandonávamos o terreiro, rente à hora do jantar, levando cada um de nós, os bolsos cheio de ilusões desfeitas. Retínhamos as imagens dos corpos das moçoilas que nos alimentavam os sonhos durante dias.
Eis-nos chegados ao Rato que já lá não está parece má sina . Vi escombros e vi tristeza. Foi uma casa com tradição que desapareceu. Ficou mais pobre aquele sítio. Esta casa também está ligada à minha meninice, pois lá emborquei muitos pirolitos à beira do meu pai. Como tudo já vai longínquo.
Chego à Madurrada. Lá em baixo, numa casa meio escondida por árvores e vegetação, vivia outrora um senhor suserano. Senhor inacessível que mandava em todas aquelas terras. Até as casas dos seus vassalos lhe pertenciam. Poderia assim começar uma historieta triste para ser contada aos nossos filhos ou netos num serão. Infelizmente não se trata de ficção; era a crua realidade e ninguém, penso eu, alguma vez pensou quão frágil era a sua segurança e dos seus. A qualquer momento e, até sem motivo que justificasse, tão-somente por mero capricho de um senhor importante podia um vassalo ficar não só sem trabalho como também sem tecto para se poder abrigar. Não deve haver tristeza maior do que um ente não ter abrigo para si e para a sua família. Não quero dizer que isso tenha acontecido. Contudo, se aconteceu ignoro. Mas o facto é que como as coisas se processavam na altura, em que não existia uma entidade que zelasse pelos que ali labutavam, podiam perfeitamente e abusivamente atirar com qualquer um para o desespero. Felizmente que hoje os tempos são outros, embora se continue a verificar muitas injustiças, muitos atropelos com a agravante de o homem ter refinado na sua crueza.
Postas que estão estas considerações, retomo as impressões que colhi nesta romagem: Em frente da entrada principal que dá acesso à entrada principal da casa senhorial e, mesmo na curva, ainda de pé parecendo-me até em bom estado, está a casa da governanta do tal senhor que acudia por John Smith. Se a memória não me atraiçoa ela chamava-se Benvinda. Mesmo tratando-se de uma serviçal, lembro-me que as pessoas lhe atribuíam uma certa deferência. O mesmo acontecia com o motorista o Sr. Tavares que fora proprietário dos carros de aluguer que estavam ao serviço da empresa. O Sr. Tavares era considerado pessoa importante e ele cheio de prosápia. Era um arrogante ao ponto de o temerem. Como eram as coisas naquele tempo. Agora meu amigo, ali naquele local, a saudade apertou. A lembrança dos nossos passeios que quase diariamente fazíamos depois do jantar ou mesmo à noitinha. Olhei aqueles muros que circundam o feudo e lá está aquele onde o nosso grupo se sentava em hilariantes conversas. Diga-se a verdade e, sem vaidade, não havia grupo como o nosso, mesmo cada um com a sua personalidade.
Cheguei enfim ao largo do clube. Quis mostrar aos meus convidados a boca da mina da galeria 5 mas um enorme taipal escondia-a totalmente e assim, estavam também as outras. Grande decepão. Esconderam-nas como quando alguém tem vergonha de uma falta menos digna e procura esconderijo. Será que um portão de ferro e um forte cadeado já não é o suficiente para travar os que pretendam prevaricar? Deve ser o sinal dos tempos.
Do meio do largo estendi o olhar até à casa que durante muitos anos me abrigou. Não está como a deixei. A beleza que tinha já a não tem mais. Amputaram-na naquilo que mais graça lhe dava. O varandim da entrada no qual tantas vezes me debrucei ou resguardei de um aguaceiro breve. Que catita ele era. E que dizer das águas-furtadas? Arrancaram tudo, taparam e alisaram o telhado com umas quantas telhas. Era ali o meu quarto e a janela estava virada para o mundo. Era através dela que todas as manhãs mirava e namorava a beleza daquelas serranias. Mirava e namorava a Serra da Estrela a nossa maior e ficava jubiloso quando com toda a sua pujança se me oferecia, bela com o seu manto de neve e o sol como seu amante acariciava-a bafejando mornamente com o seu calor tímido. Era dessa janela, que observava o bulício das gentes que no seu vai e vem davam vida àquela terra, a vida que hoje infelizmente está moribunda ou num estado vegetativo. Só falta dizer que quem hoje mora naquela casa é uma senhora Elvira viúva do ti Ricardo da Silva pai de um nosso condiscípulo José Rodrigues da Silva, julgo ser esse o seu nome completo.
A porta do clube estava ainda encerrada. Até parece o fado desta terra, ter os principais edifícios fechados. Dei a volta e entrei no ringue de patinagem. Aqui, está tudo mais ou menos como antigamente salvo, a falta da porta que do clube lhe dava acesso. No seu lugar há agora umas fiadas de tijolos colocados muito toscamente, nem rebocaram e muito menos pintaram. Serve ao menos para indicar aos vindouros que outrora por ali também se passava.
Olhei atentamente aquele espaço desportivo e por momentos visualizei com bastante nitidez o que se passou ali há muitos anos atrás: Foi numa noite quente de verão houve festa abrilhantada pela Filarmónica de São Jorge da Beira. Estava arrumada no lado direito do ringue, e enchia-nos com as modinhas em voga naquele tempo. As mesas previamente marcadas, estavam dispersas pelo recinto. Lembras-te meu amigo? O nosso grupo, ao qual nessa noite se juntaram outros amigos, lá tinha uma mesa reservada. Houve petiscos que eram empurrados por um capitoso vinho cuja marca vê lá tu, nunca esqueci. O nome que recebera foi “Surpresa” e que surpresa…
Esta noite, a memória não apagou. A magia estava presente: as estrelas pendentes brilhavam no firmamento; os pares redopiavam ao som da música; no ar cruzavam-se os aromas desprendidos pelos corpos ondulantes das raparigas e dos perfumes possivelmente contrabandeados como: “Flores del Campo” ou “Diamante Negro” e, talvez também, cheirinhos de marca omissa comprados a peso no armazém de víveres. Toda esta mistura de olores e com a cumplicidade do tal néctar “Surpresa” originou efectivamente uma noite inolvidável. Para culminar este romantismo, até arranjei uma namorada, namorada de uma só noite. Fui o senhor daquele ser no bom sentido, claro daquelas horas. Quem pretendesse bailar com a minha recém-conversada, tinha que primeiro ter o meu consentimento, condição por ela imposta. Era assim que dantes funcionava. Como disse foi um namoro de umas horas porque no dia seguinte, Domingo, com a conivência do nosso amigo Zé Marques, dei o dito por não dito e assim tudo ficou sem efeito. Por algum tempo, arrependido, andei de mal comigo mesmo, o procedimento não tinha sido nada correcto. O nome dela? Terás que avivar a memória se não te lembrares.
Bem, fomos andando que o calor apertava e ainda havia mais para ver. Estava mais sedento por aqueles lugares que propriamente por água.
Desci à praça e o velho coreto, um ícone, lá estava ainda de pé qual sentinela teimosa vigiando aquele espaço quase deserto. Ele assistiu, como única testemunha, toda aquela derrocada à sua volta: o talho, a padaria, o armazém de víveres, as garagens e sei lá que mais. Senti um imenso vazio e uma atroz nostalgia. Porém, ele, o velho coreto, tendo a seus pés o bairro de baixo também num estado de adiantada degradação, continua altaneiro a espreitar à direita, lá longe, a nossa Serra Maior e, desviando o olhar e seguindo a linha do horizonte já na Serra do Açor namora o simpático Picoto. Eu também gostei de namorar aqueles dois montes que configuram dois seios túrgidos de moça virgem. Pena foi, que nos tempos áureos, não tivessem construído numa das suas elevações, um grandioso monumento em homenagem a todos os mineiros. E, se fosse do agrado da maioria, no cume do pedestal fosse colocada a imagem de santa Bárbara, a padroeira, na condição de aparecer à comunidade mineira com os braços bem abertos abraçando e abençoando todas aquelas terras e toda aquela gente laboriosa. Quando se abraça, abençoa-se.
                                                              CONTINUA
Conde Da Gardunha

domingo, 14 de outubro de 2012

A LINGUA LAMBE (SEXO ORAL)


A LÍNGUA LAMBE (SEXO ORAL)


Carlos Drumond de Andrade, poeta maior, era adepto e escreveu um
belo poema sobre o tema:

A LÍNGUA LAMBE

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos


E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfure
cidos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

ARTIGO RETIRADO DA REVISTA "DOMINGO" DO JORNAL "CORREIO DA MANHÃ"

ARTIGO RETIRADO DA REVISTA "DOMINGO" DO CORREIO DA MANHÃ

JORNAL RUSSO TRAÇA PERFIL DO "MAIOR PORTUGUÊS" E APONTA-O COMO EXEMPLO

Em tempos de crise Salazar ainda traz saudade?
English. pravda.ru " DURANTE OS SEUS ANOS DE PODER, A ECONOMIA CRESCEU"

A crise portuguesa vista da Rússia tem uma solução: Ditadura. Que é como quem diz, no tempo de Salazar é que era bom! Foi esta a abordagem do tema num artigo com honras de página de abertura terça-feira no site do Pravda. Aí se lembra que Salazar foi em 2007 eleito o maior português de sempre, "derrotando o comunista Álvaro Cunhal [sic] com grande vantagem". E a cronista, Liuba Lul'ko, refere que "durante os seus 40 anos de poder a economia de Portugal cresceu: O PIB no início dos anos 70 era de 7% ao ano". E pergunta: "Por que razão a economia portuguesa não está agora nas melhores condições?" Difícil responder, dir-se-ia, mas Lul'ko arrisca: "Talvez o segredo resida nas qualidades pessoais dos políticos". E que qualidade são essas? "Antes de mais, "não trabalhar para os americanos ou para os alemães é importante". E o elogio, feito "sem negar os horrores de um regime totalitário", termina em beleza: " Sei o que quero e para onde vou", disse Salazar quando se tornou ministro das Finanças em 1928. Isso não é algo que pudesse dizer-se dos políticos portugueses modernos".

CONDE DA GARDUNHA

terça-feira, 4 de setembro de 2012

CINZAS


CINZAS
ARTIGO DE FERNANDO SERRA PUBLICADO NO JORNAL “ POVO DA BEIRA"

Quanto mais flagelado um país, maiores as torturas infligidas. Duas horas da tarde. Trinta e nove graus centígrados. Agosto. Céu muito azul, mas só por cima. A linha do horizonte expande uma névoa que a ilusão atira para manhãs imersas em ondas de sal. Mas o mar fica muito longe. Trezentos quilómetros reduzem-nos à realidade das sufocações e da prostração. Progressivamente o céu azul deixa de o ser, e a névoa, cada vez mais densa, difunde-se e o sol que era há pouco luminoso e límpido é agora marralheiro e turvo.
Subitamente acordamos da virtualidade e afundamo-nos no desespero do realismo fatal. Na crista da serra perfilam-se colunas espessas de fumo negro. Não tarda que os sentidos reajam ao cheiro insidioso a natureza queimada. O ruído de uma máquina voadora aguça presságios. Leva suspenso um gigantesco balde com água como a cegonha transporta o bebé das nossas ilusões pueris. Mas aqui, em lugar de nascer, mata-se. Os sanguinários da floresta rebentam todos os anos em cogumelos cada vez mais venenosos e perversos. São eles os protagonistas da vergonha, são eles os algozes de um país cada vez mais diluído na aridez e na inércia da resignação.
Já se ouve o grito sufocante das sirenes que, não tarda, roçarão os nossos sentidos em promessas de salvamento e solidariedade. Trazem homens pendurados, armados de machados que tentarão desenterrar refrigérios para infernos que seres menores atearam. Ao ruído da sua passagem eleva-se a vozearia rude da sueca na esplanada da tasca mosqueirenta e lúgubre.
Cubro com a manilha. E já ganhámos, parceiro! Mais uma rodada, ó Manecas!
Onde é que é isto hoje? Em Casegas? Porra, que é todos os anos a mesma merda…!
É aquele a embaralhar.
Filhos da p…, que mergulhavam todos o focinho na fogueira. Ah, carago, se eu mandasse…
É aquele a dar.
Trunfo é paus.
Os que já arderam, ou os que vão arder a seguir?
Deixa-te de porras e joga, que já ganhámos outra vez…
Não brinques com coisas sérias, Tomás.
Não brinques? O que é que falta queimar? Onde estão os gajos que mandam? Agarraram o “Bexigas Doidas”, o ano passado, e já aí anda outra vez, de isqueiro no bolso. E todos sabemos que não fuma. Sabes que mais? Porque é que não acabam de vez com esta palhaçada? Cá por mim, pode arder o resto, já hoje. Pinhais e quintas para defender é coisa que nunca tive. Esses que se preocupem…
Quando o cepticismo e a indiferença passam ao lado da tragédia, e o instinto de reagir é embotado pela letargia do discernimento, nada mais conta que a acomodação e a placidez. Tudo o resto são reminiscências atávicas consolidadas na iliteracia cultural de um povo atolado em depressões recorrentes.
Agora é uma ambulância que aparece e desaparece na vertigem de fugas e prioridades. Sumiu-se na última curva da estrada que as alternativas governamentais farão derivar para aceiros envergonhados, ladeados de lixo florestal por limpar.
E a natureza arde. A cumprir ciclicamente um mandato de morte anunciado. Mas eles estão lá. Farão o que puderem. Homens e mulheres na defesa, quantas vezes, de quem os maltrata. O cego mais cego é o que não quer ver. Meu Deus, e tanto cego por aí!
Sufoca-se. O vento auxiliador da desgraça arrasta consigo vagas de fumo cada vez mais negras e opacas. Cheira a fogueira de São João calendarizado não há muito. O dia que amanheceu luminoso, prenunciador de sossegos e calmarias, alguém o transformou num inferno de sobressaltos e angústias por resolver.
Alto de Silvares. As janelas abertas do automóvel deixam cair sobre o papel partículas de uma natureza a agonizar. Quisera juntá-las e devolve-las à consciência delinquente dos psicopatas que se movimentam impunes a uma justiça inerte e bafienta. A impunidade é a minha revolta e a abstracção a minha incapacidade de agir. Sendo assim, rodo a chave e arranco.
A noite chegou mais cedo ao acrescentar os seus negrumes ao céu de Inglaterra que se abateu, espesso e parado. Cisternas de bombeiros percorrem barragens, charcas e piscinas na busca autorizada do único elemento da natureza capaz de neutralizar com eficácia a fúria de um outro, seu irmão, aquele que mais depressa tudo reduz a átomos o fogo. É uma luta fratricida, mas decretada por emergência que a aflição impõe.
Duas da madrugada. As labaredas que o dia esconde são as mesmas que de noite mostram cristas aterradoras, cada vez mais próximas do que ainda está por arder. O lugar é comum, mas o cenário é, de facto, dantesco e a luta, injustamente desigual. Mas eles continuam lá. Desistir não é o lema. “Vida por vida”. Até à exaustão. Até caírem para o lado.
Ninguém dorme. Como dormir com o inferno à porta? Estendem-se mangueiras e molham-se quintais. A lua, quase cheia, pouco ajuda, incapaz de romper a impenetrável massa de fumo. As forças minguam, tal com o vento parece ter amainado. Milagre? Pode ser. O turbilhão de chamas recrudesceu. Como a fera do circo a recuar, cobarde, ao som do chicote do domador.
Daqui a pouco é novo dia. Amanhã romperá vestida de cinzas poisadas em chãos fumegantes. Os primeiros alvores trazem recados pungentes de dor e desolação. A tragédia abatera-se sobre quem toda a vida fora abnegado e justo. Cortes e pardieiros irremediavelmente perdidos. Porcos a engordar até ao ano que vem, complemento bom de uma subsistência magra, jazem carbonizados. Hortas e vinhedos que, por caprichos e necessidades eram o orgulho de quem com sacrifício os amanhava e amava, o lume os devastaram completamente. Cerejeiras e pessegueiros onde melros e toutinegras ainda ontem trinavam hinos à natureza, morreram (de pé!), de cotos apontados a clamar justiça. De duas casas de habitação, restaram as paredes, e num quintal a carcaça de um carro velho e os aros das rodas de uma carroça antiga. A casa de amarelo pertencia a um modesto emigrante a compor a vida em França, porque a terra que o viu nascer tudo lhe negou até aos trinta e cinco anos. Não resistiu à derrocada emocional. Cometeu o suicídio, soube-se depois. Num bilhete que deixou escrito pedia para ser enterrado no país que o acolheu. Nem na morte quis regressar.
Não passaram muitas horas para que os jornais e as televisões abrissem com a fotografia de um jovem de vinte e nove anos de idade. A farda de bombeiro e o olhar intrépido fixado em auroras prometidas identificavam uma vida que acabava de soçobrar à insanidade de espécimenes que de humanos têm apenas a forma anatómica e nenhuma lei teve ainda a coragem de extinguir de vez.
Em tudo quanto foi terra de gasómetro e silicose a atmosfera continua de cinzas e o sol, vestido de luto. As mulheres redobram o preto e choram em grupos de corvos. Os homens, acocorados sob um castanheiro velho, de ouriços a abrir, gastam cigarros em baforadas de raivas e impotências por resolver há muitos, muitos anos. Os cães, seres extraordinários que tudo pressentem e entendem competem em latidos lúgubres com o ronco de um helicóptero em manobras de reconhecimento.
Por entre silêncios e diálogos surdos a tarde avança, pesada. Com ela recuam sonhos e projectos para longes sem regressos. Os velhos já nada pedem à vida, e os novos são aparições acidentais e fugidias.
Ao cair da noite, suspensa das traves de uma adega escura onde repousa o vinho acidulado e fresco uma corda grossa balanceava o corpo ainda quente de um homem de cabelo grisalho e barba por desfazer.
Ontem, à sueca, ele não tinha herdades nem pinhais para guardar. Agora, de olhos esbugalhados e vidrados no vazio, embala um filho morto, muito vivo além, porque apenas transpôs o território onde campeia a imperfeição humana.
Dos dois só a memória dele perdurará.

Fernando Serra



PORTUGAL ESTÁ EM CHAMAS. TODOS OS ANOS ARDE MAIS UM POUCO. SOLUÇÕES PARA INVERTER A SITUAÇÃO NÃO SÃO TOMADAS A SÉRIO. CULPADOS? SIM HÁ-OS E MUITOS. PUNIÇÕES? ESSAS FAZEM-NOS CORAR DE VERGONHA. E, POR ESSA VERGONHA QUE NOS RUBORIZA PELA SUA INEFICÁCIA LÁ VAI... REBIMBA O MALHO

CONDE DA GARDUNHA 

domingo, 27 de maio de 2012

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS - O SENHOR VENTURA

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS

O SENHOR VENTURA

Do senhor Ventura, ninguém ou muito poucos se lembrarão. O senhor Ventura foi, penso eu, o primeiro encarregado do armazém de víveres na Panasqueira.
Quando o conheci com quatro ou cinco anos, já ele era um homem de idade avançada. Lembro-me da casa onde vivia e do dia do seu falecimento.
Era uma pessoa bem-humorada sempre com um dichote na ponta da língua no momento certo.
Certo dia, uma moça serviçal de um engenheiro foi ao armazém e, com ar desenvolto, disse ao senhor Ventura que a senhora a tinha mandado comprar um chouriço. Este, olhando-a por cima dos óculos de aros de tartaruga, respondeu: - Pois menina, hoje chouriço, só atado de uma banda.
A rapariguinha desandou sem sabermos se entendeu o que tinha acabado de ouvir.
No dia seguinte, apareceu o engenheiro com um ar circunspecto  chamou o senhor Ventura de parte e começou por lhe dizer: - O senhor com essa idade vai dizer uma coisa dessas à minha criada? Ao que o senhor Ventura respondeu com um ar muito sério: - Saiba o senhor engenheiro que ontem, chouriço, só mesmo desse. Do outro, chegou hoje se ainda for necessário, pode mandar vir cá a sua criada.
Sabe-se que foi o engenheiro que o levou mas, desta vez, um chouriço atado nas duas bandas.

Conde da Gardunha

quarta-feira, 23 de maio de 2012

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS - O SENHOR SILVA


RECORDANDO FACTOS E PESSOAS

O SENHOR SILVA                                                                                                 

O senhor Silva era o chefe da Acção Social na Panasqueira.
O senhor Silva tinha uma figura distinta, muito educado, bom falador, já com muitos cabelos brancos e vestia sempre fato completo. O lenço alvo a espreitar no bolso superior do casaco, dava-lhe um ar aristocrático.
Ora, como todos os comuns mortais, também o senhor Silva tinha necessidade de vez em quando fazer uma visita ao barbeiro - era assim que se chamava naquele tempo, ao homem que tratava de rapar a fuça e cortar a gaforina -.
O barbeiro em função era o ti Zé Manteigas, um homem bom, de sorriso fácil e que não se escamava por dá aquela palha. Porém, sofria de uma tossezita persistente e irritante que provavelmente só a tumba lha tirou.
O senhor Silva estava sentado na cadeira e o ti Zé Manteigas a cortar-lhe as repas excedentes mas, sempre a tossicar para o pescoço do chefe da Acção Social. e, tantas foram as vezes que este muito incomodado se volta para trás e diz ao "Fígaro" - ... e se você fosse cagar isso não lhe passava? .
Coitado do ti Zé Manteigas, ele bem sorriu, mas foi talvez o sorriso mais amarelo que ele esboçou na sua vida.

Conde da Gardunha.
                                                                                                     

segunda-feira, 14 de maio de 2012

AO QUE CHEGÁMOS

AO QUE CHEGÁMOS

                                             
        No jornal que leio diariamente desde há longos anos, vi uma notícia que me deixou atónito, deixou-me incrédulo que a não ser pela gravidade em causa, seria no mínimo motivo para gargalhada estridente
        O título diz tudo e, rezava assim: - “Professores do norte têm aulas de artes marciais para se defenderem dos alunos.
        No mesmo jornal mas em data diferente anunciava que as armas nas escolas são mais que muitas.
Ao que chegámos!
        É no mínimo patético para quem, como eu, teve a sorte de ser ensinado muito antes da Abrilada. Naquele tempo, não havia energumenozinhos mimados, com a veleidade de desestabilizar uma aula. Naquele tempo, como havia professores que se davam ao respeito, também havia pais que sabiam dar uma chapada no filho sempre que este a merecia. Era uma consonância perfeita entre professor e pai para bem do adolescente. Naquele tempo, os pais não iam pedir satisfações aos professores pelo mau aproveitamento dos seus rebentos. Quando estes perdiam o ano, os pais sabiam como agir que depois de reprimendas sucessivas vinham por via de regra os respetivos castigos.
        Na escola, é fundamental que haja respeito pelo professor porque não havendo, propicía desmandos como a falta de respeito ou a rebeldia até para com os seus companheiros. Não sei como nem porquê em deixarem os putos tratarem por “ó professor” omitindo o Srº. É claro que todos estes pormenores podem contribuir para uma demasiada intimidade que quanto a mim é prejudicial. Manter uma certa distanciação é saudável, põe em evidência uma hierarquia que deve ser respeitada e o aluno desde logo se apercebe disso.
        Por outro lado, há muitos pais que se demitiram da educação dos seus petizes delegando no professor, também essa incumbência. Ora, a vocação do professor, não é educar mas instruir que foi para isso que estudaram e fizeram o seu curso. Não tiraram das escolas a disciplina de moral? Então? Seria bom que alguém do governo tivesse a coragem em substituir o nome de Ministério da Educação por Ministério da Instrução ou por Ministério do ensino. Assim, evitavam-se confusões e repunha-se o verdadeiro nome para o qual está dirigido.
        A escola de hoje peca por falta de disciplina. Quando andei na instrução primária, os professores tinham as quatro classes com dezenas de alunos na mesma sala. A disciplina permitia ouvir os aparos arranharem nas folhas do caderno, ou o ponteiro a riscar nas ardósias. Havia castigos corporais? Claro que sim! Uma palmatoada por cada erro ortográfico ou quando o professor dava conta, uma canada naquele aluno que cochichasse com o companheiro. Houve traumas por isso? Não sei de ninguém que tivesse sofrido dessa maleita hoje em dia tão em voga. Ninguém necessitou de psicólogos nem se ouvia falar destes senhores que quanto a mim estão mais perto da doença do que da cura.
        E o que dizer dos chamados hiperactivos? Não existiam simplesmente e, se alguém tivesse essa tendência, era aplicada a psicologia vigente e lá se ia a hiperatividade.
        O proteccionismo exagerado, é nefasto para aqueles que começam um novo ciclo da sua vida, neste caso a aprendizagem das primeiras letras.
        Hei-de voltar a este tema numa outra crónica.
        E, pelo estado vergonhoso que deixaram chegar as escolas deste país, como não podia deixar de ser... REBIMBA O MALHO!


Conde da Gardunha