REBIMBA O MALHO

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS - O SENHOR CALDEIRA

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS

O SENHOR CALDEIRA


O senhor Caldeira era o que antigamente se chamava um africanista, pois tinha deambulado pelas áfricas durante muitos anos e onde deixou descendência: uma mulata linda que quando se tornou senhora o visitou na Panasqueira e eu conheci.
Este homem afável, anafado, asmático e que gaguejava um pouco, aportou às Minas onde fora empregado de escritório.
Casou com uma senhora muito mais nova de seu nome Pureza e o fruto desta união foi uma menina bela de cabelo loiro da qual sou padrinho do baptismo e que recebeu o nome de Eugénia em homenagem a uma tia minha que eu adorava e ainda hoje sinto muitas saudades.
Desconheço por completo o motivo por que esta família tinha laços de amizade com os meus pais, pois era frequente eles visitarem-nos.
Na véspera de um Natal, quando a minha mãe frigia as filhós, apareceu o Sr. Caldeira. No ar pairava o cheiro dos fritos e da canela, cheiro a festa. O nosso amigo pouco se demorou: um ataque de tosse violento obrigou-o a abandonar a casa ficando os meus pais sem saber ao que vinha. A asma foi incompatível com o fumo e com o cheiro dos fritos.
Ora, como já disse, ele era empregado de escritório e, num dia pela manhã, sentiu necessidade de satisfazer as suas necessidades fisiológicas. Entrou num WC que eram contíguos e aliviou-se com tantos e tais estrondos que pareciam inumanos. Ao lado, estava um colega de profissão e encontraram-se quando cada um lavava as mãos. Este, rindo-se com vontade disse: ─ Ó Sr. Caldeira, foi um bombardeamento que nem na grande guerra─. O Sr. Caldeira com ar sereno e aliviado e, na sua fala gaguejada, respondeu: ─ Num lugar destes o que queria ouvir? Ópera?

CONDE DA GARDUNHA