REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

EFEMÉRIDE

EFEMÉRIDE

Manuel Maria da Silva, poeta, escritor e jornalista nasceu na Murtosa no dia 22 de Fevereiro de 1911 há portanto 103 anos.
Trabalhou nos escritórios das Minas da Panasqueira de 1947 a Julho de 1962. Morou na Panasqueira e posteriormente na Barroca Grande granjeando simpatia por parte das pessoas pois era uma pessoa gentil e com talento reconhecido.
Sob o pseudónimo de Lúcio do Vouga publicou alguns livros quer em prosa quer em poesia. Num jornal regional publicou o seguinte soneto onde ele mostra a sua modéstia:

ACANHAMENTO (AUTO-FOTO...)

Tive uma vida literária breve
Seis livros publicados, pouco mais...
Uma vida que, em fortes vendavais,
Me coroou de mágoas e de neve...

Em tudo quanto fiz fui fraco e leve,
Sempre andei por espaços siderais...
Em folhetos, revistas e jornais
Se perdeu o que a minha musa teve.

Raro vi para mim a mão estendida
No modo franco e doce de uma ajuda,
Que muito representa numa vida...

À espera de um alguém ninguém se iluda.
Pois quando julga ser-lhe a voz ouvida
A boca não diz nada - fica muda.

Conheci muito bem este senhor e, até certa vez, muito acanhado, mostrei-lhe um trabalho meu, uma poesia. Pegou no papel, reparei que conferia a métrica e a rima e, com um lápis, fez uma emenda. Aguardei com ansiedade que me devolvesse a folha para ver o que tinha escrito. Tinha trocado a palavra "toca" por "tange" - o sino-. Colocou uma mão em cima do meu ombro e disse: - não há mais emendas a fazer, continue e escreva sempre até apanhar o ritmo. Fiquei radiante na altura mas, não segui o seu conselho.
Lúcio do Vouga enquanto morou na Panasqueira contemplava a Serra da Estrela e percorreu-a  de lés a lés. eis um soneto datado de Agosto de 1949 onde canta as belezas da nossa Serra Maior.

NAVE DE SANTO ANTÓNIO

"Nave de Santo António!" Os "Cântaros" na serra!
Deslumbrante Painel que à minha Frente avisto.
Grandiosidade! Cor! Eu olho e julgo que isto
É bem o paraíso da fulgurar na Terra!

Quietude, solidão, um véu que se descerra
E tem na mutação da cena o imprevisto!
E deslumbrado, paro! E fascinado assisto
Ao nimbo redentor que a Paz de si descerra.

A brisa delicada afaga o caminhante.
E a fonte que eu escuto, em límpido cantar,
É hino que se eleva aos astros, delirante!

"Nave de Santo António"! És o formoso altar
Da serra onde contemplo, agora, triunfante,
O quadro que me faz adormecer, sonhar...

Lúcio do Vouga tem mais sonetos sobre esta Serra que o encantava e inspirava. Porém, para encerrar esta evocação transcrevo um soneto quiçá o último que escreveu.

QUE SOU?

Cheguei a velho, percorri a vida
Cada vez a subir e a cansar mais.
Entre beijos e gritos soltei ais
E tudo foi em vão nessa corrida!

Daquilo que alcancei sinto banida
A sorte a provocar-me vendavais.
E se tentei reagir tive as brutais
Decepções que se encontram na descida.

Quanta vez me interrogo e me desfaço
Nas respostas que dou ao que sou eu
No longo pensamento em que me traço!

- Sou Luz de alguma estrela que morreu
E se encontra perdida pelo espaço
Á procura da vida que perdeu!

Lúcio do Vouga faleceu em Valongo-Mafra em 22 de Novembro de 1989.
Das pessoas que hoje vivem na Panasqueira ou na Barroca Grande, possivelmente ninguém se lembrará deste homem da cultura ou sequer ouviu falar dele o que é natural pois muitos anos já passaram.
Lembrei-me de fazer este humilde tributo em memória de alguém que de certa forma engrandeceu ainda mais as Minas e com elas os mineiros.



Conde da Gardunha