REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ANO VELHO VS. ANO NOVO

Ano Velho vs. Ano Novo
 O dia está feio: frio, nevoeiro e com chuviscos. O Dezembro reboca o ano de 2013, expirando ambos com má catadura e a contra gosto.

 Neste momento a casa está vazia. Almoço sozinho por opção. Sentado ao meu lado, o Ricky meu companheiro, espera uma guloseima extra ração que contra a minha vontade não lhe dou, por imposição do veterinário.

 No café onde vou todas as manhãs, tive uma companhia cuja amizade é recente, mas tenho-a como boa. Conversámos sobre diversos temas desde livros até à música. É uma pessoa interessada e que me vai explorando do que pouco que sei, mas que transmito com todo o prazer.

 Brindámos ao novo ano com um Porto. Brindei por delicadeza já que não sou de dar vivas ao que seja, por morte do que for.

Parece que todos estão desejosos que o ano velho se vá; faz-me lembrar dos que também assim pensam em relação aos seus parentes idosos.

 Neste ano, todos sabemos como o passámos, para o que vem é uma incógnita, não para os astrólogos e afins que esses têm o dom divinatório. Quantos dos que querem ver-se livre deste que agoniza, chegarão a dar vivas ao 2015? Eu, como um ser diferente dos demais, não me regozijo e por isso não festejo. Morrer o ano é também morrermos um pouco.

Nesta noite, a última do ano, a alegria vai extravasar – alguma, quiçá, fingida, mas importa enterrar o defunto e festejar o nado. As bebidas entornam-se goelas abaixo sem conta nem medida, empanturram-se até aos gorgomilos, os gritos de boas vindas estridem, todos os sítios estão esgotados e, alguns a preços exorbitantes e eu ser canhestro, interrogo-me por onde anda a tão propalada crise que de tanto se falar dela nos põe depressivos.

A grande maioria não estará de acordo mas, quando comecei esta crónica, não foi com o intuito de granjear aplausos e vivórios, pois sei que não vai ao encontro das opiniões de quem, por hábito, nesta altura, faz os seus festejos, foi somente, para expressar a minha opinião que não terá eco e que vale por si somente.




Conde da Gardunha

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

AS VICISSITUDES DO CATOLICISMO


AS VICISSITUDES DO CATOLICISMO

Como católico, não posso nem devo ficar indiferente aos constantes escândalos provocados pelos chamados ministros de Deus. Com demasiada frequência, a Comunicação Social dá-nos conta dos delitos que se vão cometendo e todos de cariz sexual. São crimes que se adicionam a outros que a igreja vem acumulando através dos séculos. Lembremo-nos das Cruzadas e da Inquisição que até foi canonizada e por isso lhe chamaram santa ―a Santa Inquisição.

O catolicismo está repleto de crimes e é com mágoa que o digo. Quantas vidas ceifadas, quantos martírios infligidos a povos com outras crenças? Os responsáveis pela evangelização não se limitavam a divulgar a palavra de Cristo que devia ser com bonomia, com paciência e convicção conforme os exemplos que o Redentor nos deixou, sem recorrer a métodos completamente antíteses aos que o Salvador ensinou.

Retrocedendo aos séculos VIII e IX era prática comum as forças castrenses entrarem nas povoações espalhando o terror matando e mutilando os não convertidos a Roma, abrindo assim, caminho aos que vinham na retaguarda ―o clero ― que, perante o resto do povo, aterrado, os obrigava pelo medo a aceitar a nova doutrina.

Seria esta a maneira mais correcta de pregar a Palavra? Seria este o procedimento mais condicente, para uma conversão em plena razão? Não deviam deixar que cada qual escolhesse a religião em que mais acreditasse e onde se sentisse melhor?

Depois, já quase na contemporaneidade, apareceu a famigerada, a vergonhosa, a nódoa negra do catolicismo: a verduga "Santa Inquisição". Se houvesse o Inferno tão propalado pela Igreja desde há séculos com que aterrorizam os fiéis com a ameaça de as almas serem consumidas pelo fogo― sem no entanto se consumirem―e que são acicatadas por anjos demoníacos. Se assim fosse, eles os do “santo” Oficio, deviam por lá cirandar principalmente a alma do sicário padre Torquemada, o mais acérrimo defensor desta barbárie. Outros igualmente, os que tinham responsabilidades e que podiam refrear essa crueldade. Toda esta corja por lá deve andar a carpir todos os males que infligiram à humanidade.

A Inquisição foi implantada definitivamente em Portugal no ano de 1536 no pontificado de Paulo III que detinha amplos poderes e no ano 1540 houve o primeiro auto-de-fé. Contam-se por centenas de milhares de pessoas vítimas das torturas e mortas nos países onde as fogueiras se erguiam.

Mas, o assunto que me levou hoje a escrever esta crónica, não é propriamente fazer a história da Inquisição, mas sobre o celibato. Todos sabemos que a pedofilia grassa na igreja católica. Não confundamos com homosexualidade. Não venham dizer que é a mesma coisa, são procedimentos distintos. Fiquei com a boca em "Ó" de pasmo quando ouvi um alto dignitário da igreja católica misturar e meter tudo no mesmo saco. Quando nos sentimos comprometidos, inventamos as coisas mais bizarras.

A pedofilia, segundo me parece e, é somente uma opinião, podia, porventura, não ser erradicada, mas com certeza, seria em muito atenuada, com o fim do celibato do clero. O celibato andou a ser discutido em vários Concílios. Foi no entanto instituído definitivamente em 1563 no Concílio de Trento convocado pelo papa Paulo III Porém, se a Igreja pretende seguir o exemplo dos apóstolos, cabe aqui perguntar: - Não seriam os apóstolos casados? Não teriam eles uma família? Pedro não era casado? Não foram casados os papas Adriano II e Honório IV? Então por que não outro Cocílio que revogue o disposto no anterior anulando o celibato? Aquando do Concílio Vaticano II viu-se a debandada de padres renunciando os seus votos e casarem.

Quer a Igreja conservar as paróquias em vez de, como já li, eliminar umas quantas? A solução para colmatar o défice de prelados é instituir o casamento; tão simples como isto.

É preferível que leigos de moral duvidosa em muitos casos e sem preparação substituam os verdadeiros ministros de Deus? É por tudo isto que não é para admirar que as cerimónias religiosas tenham cada vez menos participantes.

Gostaria que um dia fosse escolhido um Papa, não idoso, e que tivesse a coragem de abrir as janelas e portas do Vaticano, para que os ares bafientos dessem lugar a outros mais puros c/ cheiros de modernidade e que todos cantassem aleluias porque só assim a igreja terá a força de que necessita e evitar que vá mirrando evitando que milhares de crentes desertem, para outras religiões.
E por todas as situações condenáveis ergo os braços e REBIMBA O MALHO



Conde da Gardunha

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A MISSA DO GALO

A MISSA DO GALO

A Proveniência do nome Missa do Galo, não se sabe ao certo de onde vem. Há opiniões que divergem embora convergindo num ponto: O galináceo está sempre presente em todas as teses.
Existe uma lenda que nos conta que numa véspera de Natal, o galo cantou à meia-noite anunciando o nascimento do Menino Jesus. Outra fonte diz-nos que a missa terminava bastante tarde e os fieis quando regressavam a casa, os galos já cantavam.
Outros dizem que o nome teve origem por Jesus ser considerado o sol nascente e que nos visitou para dar luz à escuridão. Por isso é que em muitas igrejas têm ainda um galo nos campanários representado a luz Divina. O galo caracteriza o nascer do sol e, o seu canto simboliza o amanhecer ou a luz. Sabe-se todavia, que esta missa celebrou-se pela primeira vez no ano 300.

Gostei sempre de assistir a esta missa talvez pela hora que é celebrada ou talvez pela magia daquela noite maior.
A Missa do Galo era, naquele tempo, fértil em peripécias, tornava-se mesmo difícil conter o riso por serem tão caricatas. Não se tratava de cenas maldosas nem carecidas de respeito. Se aconteciam, a culpa era da alegria transbordando dos corações estimulada porventura pela bebida ingerida à volta da fogueira.
Do que estava sempre à espera, era dos cânticos em louvor ao Menino. Enquanto as fieis devotas chegavam ao fim do cântico no tempo devido, os fiéis devotos iam só pelo meio. O hino saía numa cadência lenta e arrastado embalado quiçá em hálitos etílicos. Os outros participantes esperavam pacientemente que a última voz penosamente chegasse ao fim com reprovação estampada na cara do prior.
O que de facto tinha maior relevância era que todos louvavam e festejavam o nascimento de Jesus, fosse em compasso binário ou quaternário.
Nesta missa, é hábito dar a beijar a imagem do Menino e, eu, menino de Capela-Mor, ia observando todo o cerimonial. Os fiéis subiam pela coxia central e desciam pelas laterais. Enquanto uns beijavam sem tocar na imagem, outras porém, principalmente os mais idosos que de lábios arrepanhados beijavam ali mesmo de chapa aquele corpinho róseo que era um regalo. Beijo molhado e sonoro como a querer mostrar ao Redentor o quanto gostavam Dele.
Depois do “IDE EM PAZ E QUE O SENHOR VOS ACOMPANHE” que na altura era dito em latim, os homens agrupavam-se de novo em volta do brasido até começarem a debandar para as suas casas onde para alguns, os esperava a ceia. A Ceia de Natal ou Consoada. Importava fazer jus aos pitéus tradicionais desta festa que as mulheres incansáveis tinham confeccionado.
Outros havia, os menos afortunados, que quando ultrapassavam a porta da sua casa metiam-se na cama entre lençóis húmidos e frios. Em vez da consoada uma lágrima escorria pelo rosto.


Conde da Gardunha

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O MADEIRO

O MADEIRO



O   Madeiro ou Tronco também assim chamado era trazido pelo rapazio do lugar num carro puxado por uma junta de bovídeos, ao som da
concertina que acompanhavam com cânticos e, colocado no adro da igreja.
Contudo, com a evolução dos tempos os simpáticos e pachorrentos animais deram lugar ao trator com atrelado que embora chegue mais rápido, ficou com menos encanto.
A tradição manda que o Madeiro seja roubado e, se o dono tiver alguma desconfiança, facilite a missão dos rapazes fingindo nada saber, pois essa madeira servirá para aquecer aquela noite de Natal.
Por tradição, será uma noite fria de bater o dente e, o ambiente será perfeito se farrapos de neve caírem do espaço. Deus dê muita saúde e vida para quem já teve esse privilégio.
Muito antes da meia-noite, já as pessoas começam a abandonar os seus lares. Vêm encapotadas com as golas bem puxadas para cima e, as boinas ou chapéus, afundados até às orelhas. As mãos enregeladas e, se não estão no fundo dos bolsos, friccionam-se uma contra a outra ou bafejam-se. Os narizes por via de regra estão vermelhos fustigados pelo ar gélido vindo da serra coberta por manto branco. As fungadelas sucedem-se recolhendo o pingo que teima em aparecer até que por fim acaba nas costas das mãos.
O povo conforme vai aparecendo vai ficando em redor do madeiro já esbraseado. O adro está enrubescido pelas línguas de fogo que numa dança voluptuosa, vão lambendo como a acariciar e, aos poucos, vão tomando posse daqueles troncos.
Enquanto os olhares se prendem naquele bailar das chamas acompanhadas de vez em quando de miríades de faúlhas, esticam-se os braços e aquecem-se as mãos ao mesmo tempo que batem os pés no lajedo ou no chão térreo.
A garrafa da aguardente que alguém levou, anda de mão em mão, melhor dito, de boca em boca e, no final de cada emborcação, soltam um aaaahhhhh! que ela é da rija.
Os corpos vão aquecendo não só por fora mas também por dentro. As conversas animam-se, a risada é espontânea e a alegria transparece e não tarda que uma voz se solte bem alto para cantar loas ao Deus Menino que imediatamente é seguido pelos demais.

Ó meu Menino Jesus,
Ó meu Menino tão belo,
Logo vieste nascer,
Na noite do caramelo.

Alegrem-se os céus e a terra,
Cantemos com alegria,
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria.

Entretanto a meia-noite chegou e o sino da igreja faz o convite para assistirem à Santa Missa, a Missa do Galo que é participada pela maioria dos presentes.




CONDE DA GARDUNHA

O TUDO E O POUCO DO NATAL

O TUDO E O POUCO DO NATAL 


POESIA DE A. MAGALHÃES

Aqui, olhando bem, o pouco é tudo
E o tudo que atrai é sempre pouco:
Mistério que me deixa sempre mudo,
Mistério que me deixa quase louco.

 Se me chega o pouco tenho tudo;
Se me sobeja tudo, o tudo é pouco.
Mas a gritar por tudo ando rouco
Sem tino, cego, um pouco tartamudo.

 O tudo que procuro está no pouco,
Já que no pouco pode estar o tudo.
Às vezes, o maior é o miúdo
E o mais inchado é apenas ôco.

 Sempre se pode ser feliz com pouco,
Já que aqui, o tudo não é tudo.
Essa a razão por que anda tudo louco
Atrás de tudo que é só reboco.

Ó frustrados de todos e de tudo,
Ensinai-me a sair deste cabouco,
Pois se souber no pouco pôr o tudo,
Serei então feliz com o meu pouco.

Em Deus Menino ‘stão o tudo e o pouco
Mas no seu pouco é que temos tudo.
O engano virá do falso troco,
De não chegar ao tudo pelo pouco.

Este Menino é tudo no seu pouco
E só nele se pode achar o tudo.
Se assim não for, tudo o mais é louco.
Ó meu Menino, Menino tão pouco!

Tão pouco! Mas para nós sois o tudo.