O Madeiro ou Tronco também assim chamado era trazido pelo rapazio do
lugar num carro puxado por uma junta de bovídeos, ao som da
concertina que
acompanhavam com cânticos e, colocado no adro da igreja.
Contudo, com a
evolução dos tempos os simpáticos e pachorrentos animais deram lugar ao trator com
atrelado que embora chegue mais rápido, ficou com menos encanto.
A tradição manda que o Madeiro seja roubado e, se o dono tiver alguma
desconfiança, facilite a missão dos rapazes fingindo nada saber, pois essa
madeira servirá para aquecer aquela noite de Natal.
Por tradição, será uma noite fria de bater o dente e, o ambiente será
perfeito se farrapos de neve caírem do espaço. Deus dê muita saúde e vida para quem
já teve esse privilégio.
Muito antes da meia-noite, já as pessoas começam a abandonar os seus
lares. Vêm encapotadas com as golas bem puxadas para cima e, as boinas ou
chapéus, afundados até às orelhas. As mãos enregeladas e, se não estão no fundo
dos bolsos, friccionam-se uma contra a outra ou bafejam-se. Os narizes por via
de regra estão vermelhos fustigados pelo ar gélido vindo da serra coberta por
manto branco. As fungadelas sucedem-se recolhendo o pingo que teima em aparecer
até que por fim acaba nas costas das mãos.
O povo conforme vai aparecendo vai ficando em redor do madeiro já
esbraseado. O adro está enrubescido pelas línguas de fogo que numa dança
voluptuosa, vão lambendo como a acariciar e, aos poucos, vão tomando posse daqueles
troncos.
Enquanto os olhares se prendem naquele bailar das chamas acompanhadas
de vez em quando de miríades de faúlhas, esticam-se os braços e aquecem-se as
mãos ao mesmo tempo que batem os pés no lajedo ou no chão térreo.
A garrafa da aguardente que alguém levou, anda de mão em mão, melhor
dito, de boca em boca e, no final de cada emborcação, soltam um aaaahhhhh! que
ela é da rija.
Os corpos vão aquecendo não só
por fora mas também por dentro. As conversas animam-se, a risada é espontânea e
a alegria transparece e não tarda que uma voz se solte bem alto para cantar
loas ao Deus Menino que imediatamente é seguido pelos demais.
Ó meu Menino Jesus,
Ó meu Menino tão belo,
Logo vieste nascer,
Na noite do caramelo.
Alegrem-se os céus e a terra,
Cantemos com alegria,
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria.
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