REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

OS REIS MAGOS

OS REIS MAGOS
    
    Pensa-se que os três Rei Magos fossem sábios astrólogos e considerados Reis por serem muito poderosos e terem oferecido a Jesus presentes magníficos: ouro para honrar o Menino como Rei; incenso para o reconhecer como Deus e mirra para significar que Ele era homem verdadeiro.
     Estes magos chamaram-se:
GASPAR que significa o que vai com amor
MELCHIOR o que anda com suavidade e guia usando a mansidão
BALTAZAR o que obedece prontamente sem discutir a vontade de Deus
     O Evangelho ensina que vieram do Oriente guiados por uma estrela diferente de todas as outras e, ao seguirem-na, chegaram ao presépio onde ajoelharam e adoraram o Salvador.
     Existem muitas tradições para se comemorar o dia de Reis como ter a romã à nossa mesa e que deve ser comida tendo ouro numa das mãos. Deve-se guardar sete bagos durante todo o ano para que à família na falte dinheiro. É uma tradição não muito usual entre nós embora muito antiga noutras paragens.
     Outro costume também já antigo, calcule-se do tempo dos Reis Magos. Estes quando chegaram perto do presépio tiveram um problema: qual deles faria em primeiro lugar a oferta ao Menino? Valeu-lhes um artífice que se prontificou a confeccionar um bolo que teria a forma redonda com uma abertura no centro e enfeitado com frutos secos e cristalizados de maneira que desse a impressão serem pedras preciosas encastoadas como de uma coroa real se tratasse. Todavia, no interior colocaria uma fava. Partido e distribuído, iria em primeiro lugar aquele que fosse contemplado com ela. Não nos diz a lenda qual deles teve esse privilégio. O caso espalhou-se e foram os pasteleiros os responsáveis pela sua divulgação.
     Noutros quadrantes, outros usos existem como em Macau que nessa data respira-se um ar de festa durante vários dias e em casa alguma faltam as tangerinas quer em pratos, quer penduradas em pequenas tangerineiras envasadas visto serem consideradas o símbolo da riqueza eda prosperidade.
     Em Espanha, a festa dos Reis Magos é uma das mais importantes das festas do Natal. São os Reis que trazem os presentes para as crianças por isso, elas deixam à noite nas varandas ou janelas, cestos para as recolherem. Mais vale assim, do que acreditarem no pai natal.

CONDE DA GARDUNHA        


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O NATAL - CONTINUAÇÃO (AS JANEIRAS)

O NATAL - CONTINUAÇÃO (AS JANEIRAS)
As janeiras como o nome indica, são cantigas de Boas Festas por ocasião do Ano Novo também chamado Ano Bom e por conseguinte cantadas em Janeiro.
Talvez assim acontecesse ou ainda aconteça em muitas terras. Porém, onde me criei, as coisas não se passavam bem assim. As janeiras vinham muito antes, logo que o calendário perdia a folhinha do Novembro, eis que os janeireiros da minha infância, aí estavam. Eram grupos de rapazes que percorriam o lugar com suas cantigas de adular embora falando sempre do nascimento do Menino.
Enfrentavam heroicamente umas vezes o vento nordestino que impiedosamente açoitava aquela serrania assobiando lugubremente por aquelas escarpas, ou as chuvas álgidas tocadas por rajadas que encharcavam até aos ossos qualquer cristão, ou ainda, a neve que de mansinho caía lentamente cobrindo de branco aqueles caminhos sinuosos e alcantilados. Foi com razão que empreguei - heroicamente – porque na verdade, era bravo o clima por aquelas terras do fim do mundo.
Estes rapazes de rija têmpera, não vergavam por maior que fosse a borrasca. As suas vozes lá longe, ouviam-se ora mais nítidas ora mais sumidas, consoante o vento as trazia ou as levava.
Gostava deles e é com imensa saudade que os recordo. Só uma vez ouvi o “Talinca Martelos” como lá se dizia. Foi dedicado a um vizinho que tinha por hábito deixar os rapazes cantarem e recantarem sem que lhes desse a devida recompensa. Foi numa dessas noites que ouvi então:

Talinca martelos
E torna a talincar
Este barbas de chibo
Não tem nada pra nos dar.

Terminado este mimo, eis que eles aí vão numa abalada desordenada porque nunca se sabe qual a reacção de um recém-promovido a “Barbas de Chibo".   Rara era a noite que pela nossa porta não passassem dois ou três destes grupos. Assim que ouvíamos a voz do solista sabíamos logo de quem se tratava. O melhor era o Manel Serrão, aliás, todos os irmãos tinham muito jeito para as cantorias, salvo o Zé que era surdo-mudo. Mesmo assim, não obstou que numa dessas noites, na sua voz gutural louvasse o Menino Jesus juntamente com outros.

O Manel Serrão começava:
                                           “Inda” agora aqui cheguei
                                           Pus o pé nesta escada
                                           Logo o meu coração disse:
                                           Aqui mora gente honrada.

O refrão era atacado por todos:

                                           Aquela lapinha
                                           Coberta bem c’um véu
                                           A Virgem bem guardada
                                           P’los Anjos do Céu
                                           Ó Anjos do Céu
                                           Que tão bem cantais
                                           Cantai ao Menino
                                           Bendito sejais!
Continuava o Serrão:

                                           Viva lá senhor ……..
                                           Raminho de salsa crua
                                           Quando vai pró trabalho
                                           Ilumina toda a rua.
Entra o coro:
                                           Aquela lapinha
                                           Coberta…………
Vem o Serrão:
                                           De quem é aquela bola
                                           Que ali está no corredor
                                           É do menino…………
                                           Que é um grande jogador
Novamente o coro:
                                           Aquela lapinha
                                           Coberta………….
Continua o Serrão:
                                           De quem é aquele livro                                
                                           Que ali está naquela estante 
                                           É do menino…………..
                                           Que é um bom estudante.
Segue o coro:                                           
                                           Aquela lapinha  
                                           Coberta………….
Arremata o Serrão:                                           
                                           Levante-se lá minha senhora  
                                           Desse banquinho de prata  
                                           Venha dar-nos as janeiras  
                                           Q’está um frio que mata.
           
Terminada a cantiga, abria-se a porta de casa e eram gratificados com dinheiro ou com outros mimos que antes dos agradecimentos eram guardados zelosamente.

CONDE DA GARDUNHA


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O NATAL

O NATAL



(EXCERTO EXTRAÍDO DE UM OPÚSCULO QUE ESCREVI HÁ MUITO)


O Madeiro ou Tronco também assim chamado, é trazido pelo rapazio num carro puxado por uma junta de bovídeos. Também aqui houve já uma mudança graças à evolução. Hoje os pachorrentos e simpáticos animais, foram substituídos pelo tractor que com o seu atrelado lá chega ao adro da igreja com menos demora mas, também com menos poesia.
A tradição manda que o tronco seja roubado e que se o dono tiver alguma desconfiança, finja que nada sabe e facilite a vida aos rapazes que se preparam para lhe subtrair algo que servirá para aquecer aquela noite que também por tradição deve ser fria de bater o tarau e o ambiente ficará completo, se alguns farrapos de neve esvoaçarem no espaço. Deus dê muita saúde e vida a quem já teve esse privilégio.
Muito antes da meia-noite, já as pessoas começam a abandonar os seus lares com destino ao adro da igreja onde se encontra o madeiro. Vêm encapotadas, golas bem puxadas para cima enquanto as boinas ou chapéus bem chegados para as orelhas. As mãos, quando não estão bem no fundo dos bolsos, friccionam-se uma na outra ou bafejam-se para que os dedos não fiquem encaramelados. Os narizes por via de regra, estão vermelhos devido ao ar gélido que os fustiga. O pingo que teima em aparecer, logo desaparece numa fungadela e então é o aparece e desaparece até que, acaba por morrer nas costas da mão.
O povo vai chegando e vai ficando em redor do madeiro já esbraseado. O adro está enrubescido pelas línguas de fogo que numa dança voluptuosa, vão lambendo como a querer acariciar e, aos poucos, vão tomando posse do madeiro.
Enquanto os olhares estão presos naquele bailar das chamas acompanhadas de vez em quando de miríades de faúlhas, esticam-se os braços e aquecem-se as mãos ao mesmo tempo que batem os pés no lajedo ou no chão térreo.
Depois vem a dança da garrafa da aguardente que rodopia de mão em mão, ou para melhor dizer, de boca em boca e, no final de cada emborcação, segue-se sempre um aaahhhh!!!!  ou um estalido com a língua que ela é da rija.
Os corpos vão estando com boa temperatura tanto por dentro como por fora. As conversas animam-se, a risada fácil aparece e não tarda que alguém comece a cantar bem alto loas ao Deus Menino, logo seguido por todos    
                 
                 Alegrem-se os Céus e a terra
                 Cantemos com alegria
                 Já nasceu o Deus Menino
                 Filho da Virgem Maria

                 Ó meu Menino Jesus                
                 Ó meu menino tão belo          
                 Logo vieste nascer
                 Na noite do caramelo.                   

Entretanto a meia-noite chegou e o sino da igreja faz o convite para a Santa Missa, chamada a Missa do Galo, que a maior parte das pessoas se apressam a participar.
Gostei sempre de estar presente nessa Missa talvez por ser celebrada àquela hora ou simplesmente pela magia daquela noite.
A Missa do Galo era fértil em peripécias, era mesmo difícil conter o riso em certos momentos. Não eram cenas maldosas nem carecidas de respeito, se elas aconteciam, a culpa era da alegria contida nos corações estimulada porventura pela bebida ingerida à volta da fogueira. Contudo, se havia alguém mais sisudo e fizesse o respectivo reparo, imediatamente o prevaricador afivelava o rosto com o ar mais seráfico possível o que dava azo a uma maior vontade de rir.
Do que estava sempre à espera, era dos cânticos em louvor ao Menino. Enquanto as fieis devotas chegavam ao fim do cântico em tempo devido, outros fiéis devotos iam ainda aí pelo meio. O hino saía numa cadência lenta embalado em hálitos etílicos e o resto do pessoal, pacientemente, esperava que a última voz penosamente chegasse ao final.
O que de facto tinha maior relevância era que todos louvavam e festejavam o nascimento de Jesus, fosse em compasso binário ou quaternário.
Nesta Missa por hábito, dá-se a beijar a imagem de Jesus e eu, menino de Capela-mor, ia observando todo aquele cerimonial. Os fiéis subiam pela coxia central e desciam pelas laterais. Enquanto uns beijavam a uns centímetros da imagem, havia no entanto outros principalmente os mais idosos que de lábios arrepanhados pela ausência dos dentes, beijavam ali mesmo, de chapa, aquele corpinho róseo que era um regalo. Saía um beijo sonoro como a quererem mostrar ao Redentor o quanto gostavam Dele.
Depois de ouvida a missa, agrupavam-se de novo em redor do brasido em franco e alegre convívio.
Na maioria dos lares a ceia estava à espera. Era a consoada. Importava pois fazer jus ao trabalho das mulheres que não se poupavam em confeccionar os pitéus tradicionais desta festa.


(CONTINUA)


CONDE DA GARDUNHA