REBIMBA O MALHO

REBIMBA O MALHO

domingo, 27 de maio de 2012

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS - O SENHOR VENTURA

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS

O SENHOR VENTURA

Do senhor Ventura, ninguém ou muito poucos se lembrarão. O senhor Ventura foi, penso eu, o primeiro encarregado do armazém de víveres na Panasqueira.
Quando o conheci com quatro ou cinco anos, já ele era um homem de idade avançada. Lembro-me da casa onde vivia e do dia do seu falecimento.
Era uma pessoa bem-humorada sempre com um dichote na ponta da língua no momento certo.
Certo dia, uma moça serviçal de um engenheiro foi ao armazém e, com ar desenvolto, disse ao senhor Ventura que a senhora a tinha mandado comprar um chouriço. Este, olhando-a por cima dos óculos de aros de tartaruga, respondeu: - Pois menina, hoje chouriço, só atado de uma banda.
A rapariguinha desandou sem sabermos se entendeu o que tinha acabado de ouvir.
No dia seguinte, apareceu o engenheiro com um ar circunspecto  chamou o senhor Ventura de parte e começou por lhe dizer: - O senhor com essa idade vai dizer uma coisa dessas à minha criada? Ao que o senhor Ventura respondeu com um ar muito sério: - Saiba o senhor engenheiro que ontem, chouriço, só mesmo desse. Do outro, chegou hoje se ainda for necessário, pode mandar vir cá a sua criada.
Sabe-se que foi o engenheiro que o levou mas, desta vez, um chouriço atado nas duas bandas.

Conde da Gardunha

quarta-feira, 23 de maio de 2012

RECORDANDO FACTOS E PESSOAS - O SENHOR SILVA


RECORDANDO FACTOS E PESSOAS

O SENHOR SILVA                                                                                                 

O senhor Silva era o chefe da Acção Social na Panasqueira.
O senhor Silva tinha uma figura distinta, muito educado, bom falador, já com muitos cabelos brancos e vestia sempre fato completo. O lenço alvo a espreitar no bolso superior do casaco, dava-lhe um ar aristocrático.
Ora, como todos os comuns mortais, também o senhor Silva tinha necessidade de vez em quando fazer uma visita ao barbeiro - era assim que se chamava naquele tempo, ao homem que tratava de rapar a fuça e cortar a gaforina -.
O barbeiro em função era o ti Zé Manteigas, um homem bom, de sorriso fácil e que não se escamava por dá aquela palha. Porém, sofria de uma tossezita persistente e irritante que provavelmente só a tumba lha tirou.
O senhor Silva estava sentado na cadeira e o ti Zé Manteigas a cortar-lhe as repas excedentes mas, sempre a tossicar para o pescoço do chefe da Acção Social. e, tantas foram as vezes que este muito incomodado se volta para trás e diz ao "Fígaro" - ... e se você fosse cagar isso não lhe passava? .
Coitado do ti Zé Manteigas, ele bem sorriu, mas foi talvez o sorriso mais amarelo que ele esboçou na sua vida.

Conde da Gardunha.
                                                                                                     

segunda-feira, 14 de maio de 2012

AO QUE CHEGÁMOS

AO QUE CHEGÁMOS

                                             
        No jornal que leio diariamente desde há longos anos, vi uma notícia que me deixou atónito, deixou-me incrédulo que a não ser pela gravidade em causa, seria no mínimo motivo para gargalhada estridente
        O título diz tudo e, rezava assim: - “Professores do norte têm aulas de artes marciais para se defenderem dos alunos.
        No mesmo jornal mas em data diferente anunciava que as armas nas escolas são mais que muitas.
Ao que chegámos!
        É no mínimo patético para quem, como eu, teve a sorte de ser ensinado muito antes da Abrilada. Naquele tempo, não havia energumenozinhos mimados, com a veleidade de desestabilizar uma aula. Naquele tempo, como havia professores que se davam ao respeito, também havia pais que sabiam dar uma chapada no filho sempre que este a merecia. Era uma consonância perfeita entre professor e pai para bem do adolescente. Naquele tempo, os pais não iam pedir satisfações aos professores pelo mau aproveitamento dos seus rebentos. Quando estes perdiam o ano, os pais sabiam como agir que depois de reprimendas sucessivas vinham por via de regra os respetivos castigos.
        Na escola, é fundamental que haja respeito pelo professor porque não havendo, propicía desmandos como a falta de respeito ou a rebeldia até para com os seus companheiros. Não sei como nem porquê em deixarem os putos tratarem por “ó professor” omitindo o Srº. É claro que todos estes pormenores podem contribuir para uma demasiada intimidade que quanto a mim é prejudicial. Manter uma certa distanciação é saudável, põe em evidência uma hierarquia que deve ser respeitada e o aluno desde logo se apercebe disso.
        Por outro lado, há muitos pais que se demitiram da educação dos seus petizes delegando no professor, também essa incumbência. Ora, a vocação do professor, não é educar mas instruir que foi para isso que estudaram e fizeram o seu curso. Não tiraram das escolas a disciplina de moral? Então? Seria bom que alguém do governo tivesse a coragem em substituir o nome de Ministério da Educação por Ministério da Instrução ou por Ministério do ensino. Assim, evitavam-se confusões e repunha-se o verdadeiro nome para o qual está dirigido.
        A escola de hoje peca por falta de disciplina. Quando andei na instrução primária, os professores tinham as quatro classes com dezenas de alunos na mesma sala. A disciplina permitia ouvir os aparos arranharem nas folhas do caderno, ou o ponteiro a riscar nas ardósias. Havia castigos corporais? Claro que sim! Uma palmatoada por cada erro ortográfico ou quando o professor dava conta, uma canada naquele aluno que cochichasse com o companheiro. Houve traumas por isso? Não sei de ninguém que tivesse sofrido dessa maleita hoje em dia tão em voga. Ninguém necessitou de psicólogos nem se ouvia falar destes senhores que quanto a mim estão mais perto da doença do que da cura.
        E o que dizer dos chamados hiperactivos? Não existiam simplesmente e, se alguém tivesse essa tendência, era aplicada a psicologia vigente e lá se ia a hiperatividade.
        O proteccionismo exagerado, é nefasto para aqueles que começam um novo ciclo da sua vida, neste caso a aprendizagem das primeiras letras.
        Hei-de voltar a este tema numa outra crónica.
        E, pelo estado vergonhoso que deixaram chegar as escolas deste país, como não podia deixar de ser... REBIMBA O MALHO!


Conde da Gardunha