O NATAL - CONTINUAÇÃO (AS JANEIRAS)

As janeiras como o nome indica, são cantigas de Boas Festas por ocasião do Ano Novo também chamado Ano Bom e por conseguinte cantadas em Janeiro.
Talvez assim acontecesse ou ainda aconteça em muitas terras. Porém, onde me criei, as coisas não se passavam bem assim. As janeiras vinham muito antes, logo que o calendário perdia a folhinha do Novembro, eis que os janeireiros da minha infância, aí estavam. Eram grupos de rapazes que percorriam o lugar com suas cantigas de adular embora falando sempre do nascimento do Menino.
Enfrentavam heroicamente umas vezes o vento nordestino que impiedosamente açoitava aquela serrania assobiando lugubremente por aquelas escarpas, ou as chuvas álgidas tocadas por rajadas que encharcavam até aos ossos qualquer cristão, ou ainda, a neve que de mansinho caía lentamente cobrindo de branco aqueles caminhos sinuosos e alcantilados. Foi com razão que empreguei - heroicamente – porque na verdade, era bravo o clima por aquelas terras do fim do mundo.
Estes rapazes de rija têmpera, não vergavam por maior que fosse a borrasca. As suas vozes lá longe, ouviam-se ora mais nítidas ora mais sumidas, consoante o vento as trazia ou as levava.
Gostava deles e é com imensa saudade que os recordo. Só uma vez ouvi o “Talinca Martelos” como lá se dizia. Foi dedicado a um vizinho que tinha por hábito deixar os rapazes cantarem e recantarem sem que lhes desse a devida recompensa. Foi numa dessas noites que ouvi então:
Talinca martelos
E torna a talincar
Este barbas de chibo
Não tem nada pra nos dar.
Terminado este mimo, eis que eles aí vão numa abalada desordenada porque nunca se sabe qual a reacção de um recém-promovido a “Barbas de Chibo". Rara era a noite que pela nossa porta não passassem dois ou três destes grupos. Assim que ouvíamos a voz do solista sabíamos logo de quem se tratava. O melhor era o Manel Serrão, aliás, todos os irmãos tinham muito jeito para as cantorias, salvo o Zé que era surdo-mudo. Mesmo assim, não obstou que numa dessas noites, na sua voz gutural louvasse o Menino Jesus juntamente com outros.
O Manel Serrão começava:
“Inda” agora aqui cheguei
Pus o pé nesta escada
Logo o meu coração disse:
Aqui mora gente honrada.
O refrão era atacado por todos:
Aquela lapinha
Coberta bem c’um véu
A Virgem bem guardada
P’los Anjos do Céu
Ó Anjos do Céu
Que tão bem cantais
Cantai ao Menino
Bendito sejais!
Continuava o Serrão:
Viva lá senhor ……..
Raminho de salsa crua
Quando vai pró trabalho
Ilumina toda a rua.
Entra o coro:
Aquela lapinha
Coberta…………
Vem o Serrão:
De quem é aquela bola
Que ali está no corredor
É do menino…………
Que é um grande jogador
Novamente o coro:
Aquela lapinha
Coberta………….
Continua o Serrão:
De quem é aquele livro
Que ali está naquela estante
É do menino…………..
Que é um bom estudante.
Segue o coro:
Aquela lapinha
Coberta………….
Arremata o Serrão:
Levante-se lá minha senhora
Desse banquinho de prata
Venha dar-nos as janeiras
Q’está um frio que mata.
Que ali está naquela estante
É do menino…………..
Que é um bom estudante.
Segue o coro:
Aquela lapinha
Coberta………….
Arremata o Serrão:
Levante-se lá minha senhora
Desse banquinho de prata
Venha dar-nos as janeiras
Q’está um frio que mata.
Terminada a cantiga, abria-se a porta de casa e eram gratificados com dinheiro ou com outros mimos que antes dos agradecimentos eram guardados zelosamente.
CONDE DA GARDUNHA
Como é bom recordar, amigo Victor!
ResponderEliminarLindooo,é muito bom recordar esta tradição bem Portuguesa......era um convívio muito agradável nas noites frias de Janeiro.
ResponderEliminarRECORDAR É BOM QUANDO SÃO GRATAS AS RECORDAÇÕES.AGRADEÇO SINCERAMENTE À ALDA E AO ZÉ OS SEUS COMENTÁRIOS.
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